É chegada a hora e hoje eu preciso escrever.
Tem dias que as idéias não cabem na gente e como a gente não quer gritar, ou não "pode"ou não deveria, é pertinente escrever.
A tempos prometi um texto embasado, agora no chão da sala de aula,que como diz Rubem Alves, cada um fala de onde põe o pé. (Ainda não é este)
Meus pés já adentraram várias salas de aula, de muitas turmas, faixas etárias, enfim, atualmente eles tem dentre outros espaços, a grandeza de estar no mais encantado de todos o da Educação Infantil. Se me perguntassem, sem pestanejar eu diria, é este o mais sagrado de todos os que eu já pisei.
Hoje quando eu os observava dormindo e ali refletia sobre a complexidade e a seriedade de minha missão o desejo de escrever este texto nasceu. Quando a gente está concatenado o universo conspira e também hoje me apareceu a professora do Rio Grande do Norte, aquela do post anterior.
O termos, as concepções, a forma de educar, foram sendo transformadas ao longo do tempo. Não trago comigo o desejo de fazer uma contextualização histórica, mas como tudo está intrinsecamente ligado a ela ou como tudo a vai construindo é necessário citar.
Se os professores já foram mais ou menos valorizados, se houveram épocas como as de início de carreira de minha mãe nos anos 70, em que professor era um semi Deus, em que rezava na missa, dava doutrina, fazia horta, dava aulas até. Em outras épocas qualquer um poderia ser professor, qualquer um poderia substuí-los , eles ja não conheciam a comunidade, ja não sabiam mais onde os alunos viviam , ja não tinham tempo de se envolverem por que corriam de um emprego a outro, por que houve "nucleação" por que faltou habilitação, tato, tempo, dedicação... Enfim, tudo isso seria base de uma tese certamente, mas não é o cerne deste texto. Otimista que sou e que morrerei sendo acredito que não estamos nem ao mar , nem a terra, há um quase meio termo no envergar da vara, retomamos alguns pontos e posturas indispensáveis que se perderam quando se abandonou o "tradicional" que já ganhamos em relação ao caos generalizado que me parece não estar estabelecido. Sim, existem Professores e professores.
Se as políticas públicas forem observadas no detalhe, evidente que haveriam muitas sugestões e inclusive comparações possíveis de serem grifadas. Eu falo de um contexto local, meu, que acaba refletindo o dia-a-dia daqui e dali e até do Rio Grande do Norte.
No Sul maravilha, que pra quem vê bem de perto também não é aquela maravilha inteira que é veículada, onde os problemas podem não estar centrados na estrutura física, as carteiras estão na maioria das salas,o material mesmo que díficil de chegar está por ali, também não é este comparativo que pretendo abordar.
Embalada pela propaganda do "Todos pela Educação" do governo Federal, sim , aquele vídeo bem elaborado inclusive, que começa assim..."A base de toda conquista um bom professor...tudo que se cria tem um bom professor...O que se aprende ... o que se ensina...tem um bom professor... e por aí vai, deixando registrado que todos dependem de um bom professor.
Chegamos ao ponto de debate. Um bom Professor! Também não vou lhes dizer que a minha caminhada educacional ja não me deu suporte suficiente pra saber que nem todos são bons, que nós dependemos de condições físicas, estruturais pedagógicas, de formação assessoramento gestão e todo o mais que trata o aparato necessário para que não nos sintamos exatamente como Amanda Gurgel, com o peso de sermos "salvadores do Brasil", apenas com giz e quadro.
Quero de fato lhes dizer da minha indignação de como a legislação tem sido cruel também no cenário educacional. Simplóriamente exemplificando,Se precisa pedagogia pra estar atuando nas séries iniciais e educação infantil, isso tem que ser cumprido e acredito que deva ser assim, programas emergenciais, projetos, e tudo o mais para adequação da lei, até que o nobre Presidente, sim, o último que se apresentou, resolve sanar o problema da formação, abolindo da LDB a obrigatoriedade da formação, podendo ser professor em caráter emergencial, que se faça educação sem formação. Se fica determinado através de lei que a criança entrará na aula aos seis, no ano seguinte é necessário que com ou sem adequação de currículo, com ou sem debate, a LEI seja cumprida, ainda que tortamente. Se a criança a partir de completar quatro anos tem direito a educação Infantil, assim o será e eu inclusive considero isso muito bom. A verdadeira indignação é em relação a lei do piso salarial, que é fruto de uma luta histórica, aprovado em 2009 com uma boa redação, possível de ser entendida, agora precisa de greve e lutas, estas incompreendidas pela comunidade até, por que esta lei pode esperar, tem medida administrativa, tem Estado, inclusive o de Santa Catarina que entrou na justiça, tem que o piso é pra inicial de carreira e quem tem graduação ou é especialista nào tem o direito ...
É concebível isso para vocês?
Por que pra fazer cumprir resoluções, normativas, pra fazer educação, pra mudar melhor este país, nós professores somos o que há de mais importante e quando pleiteamos o mínimo, piso salarial da categoria aplicado ao plano de carreira, não é atendido e ainda ficamos a mercê de "n" interpretações.
Tem uma forma, buscar na justiça, por que que tem que ser assim?
Como gestora que fui, eu sei que são necessárias adequações, cortes, reorganização, que este tema dá trabalho , incômodos, stress, mas gente, ja fazem 2 anos, e nós continuamos aguardando, até quando será? Ponderem, eu também sei que não será este piso a salvação da qualidade da educação,muitas outras ações, acompanhamento e avaliações,mas ele representa o mínimo em se tratando de respeito a uma classe profissional. E se nada mais servir, imaginem que muitos de vocês certamente voltarão para as salas de aula um dia destes!
Cátia Regina Marangoni Geremias