Comunicação não violenta nas escolas
Matheus*, de 4 anos, estava correndo alegremente
atrás da galinha, que fica solta nos pátios de uma escola de educação infantil.
Porém, bastou a professora ver a cena para, aos gritos, exigir que o menino
parasse a brincadeira. Em seguida, ela perguntou se ele era surdo e o ameaçou:
“se eu falar mais uma vez, você vai ficar sentado, sozinho”.
O caso aconteceu em uma unidade escolar de
Americana, interior de São Paulo, mas, certamente você deve se lembrar de ter
ouvido frases similares em algum contexto escolar. Apesar de comuns, são
afirmações ditas, muitas vezes, sem refletir sobre a violência que está por
trás de cada palavra.
Porém, engana-se quem pensa que são apenas as
agressões físicas que deixam marcas na vida de uma criança ou jovem.
Especialistas afirmam que a maneira como os alunos são tratados na escola
refletem no adulto que elas se tornarão.
Sendo assim, a busca para possibilitar diálogos
mais positivos dentro das salas de aula torna-se cada vez mais necessária. E,
um dos caminhos, é a prática da Comunicação Não Violenta (CNV). Criada pelo
americano Marshall Rosenberg, trata-se de uma maneira clara e empática para
dialogar, sem culpar, julgar, ameaçar ou ridicularizar a outra pessoa.
“A Comunicação Não Violenta é uma nova forma de se
comunicar consigo mesmo e com o outro. Alguns a definem como um método, mas eu
acredito que é algo muito mais profundo. Nela, nós nos conectamos com a nossa
humanidade, nossos sentimentos e necessidades, para depois nos conectarmos com
o outro, fazendo florescer a nossa compaixão natural”, explica a escritora e consultora em educação não violenta Elisama
Santos.
Com o objetivo de melhorar os relacionamentos, a
CNV mantém o foco na resolução dos conflitos.
A diferença
entre comunicação não violenta e permissividade
Quando se fala sobre Comunicação Não Violenta, uma
das maiores dúvidas é como não confundi-la como permissividade. Porém, se você
também acredita que os dois conceitos são uma linha tênue, saiba que existe uma
grande diferença. Afinal, a permissividade é o oposto do que prega a CNV.
“Se me conecto com o que sinto e preciso, assumo a
responsabilidade do que acontece ao meu redor e defendo, com firmeza e empatia,
o que acredito. Apresento os meus limites, por acreditar que é importante que o
outro os conheça e respeite. No que tange à educação, ao sermos permissivos,
não nos conectamos com o que a criança sente e precisa, abrimos mão do cuidado
com as suas reais necessidades”, afirma a
consultora Elisama Santos.
Como exemplo, ela cita que, na educação
tradicional, se uma criança ou jovem sentir raiva e falar de maneira grosseira
com os professores seu comportamento deverá ser reprimido. Já na permissividade,
os educadores se furtariam do dever de orientar para uma postura adequada,
justificando, muitas vezes, que é apenas uma criança ou um jovem, que vai
passar ou que não é de sua responsabilidade.
“Em ambos os casos, a necessidade de ser orientada
com clareza e gentileza, se preparando para relacionar-se com outras pessoas no
futuro, não está sendo atendida. Sob a luz da não violência, acolhemos o
sentimento que gerou o mau comportamento, e redirecionamos o comportamento:
‘Entendo que esteja chateado, vou te ouvir assim que você falar de outra
forma’. Essa é uma forma de abordagem. Assim, nem somos agressivos, nem somos
permissivos. Entre o oito e o 80, existem 72 opções”, destaca.
Qual a
importância da CNV no contexto escolar?
Quando corpo docente e funcionários iniciam a
prática da Comunicação Não Violenta, respostas automáticas são repensadas. A
partir dessa reflexão, as crianças e adolescentes passam a ter a possibilidade
de se tornarem adultos mais conscientes sobre as formas de se relacionar, além
de terem mais autoconfiança.
“Vivemos em uma sociedade onde a violência
invisível toma conta dos nossos relacionamentos sem que a gente perceba.
Ameaças veladas, punições disfarçadas, recompensas camufladas, nos fazem passar
uma vida dependendo da opinião do outro para validarmos o que é importante para
nós mesmos. Infelizmente, nem percebemos isso, ameaçamos nossos filhos e alunos
com a possibilidade de não serem bem quistos por nós quando dizemos por
exemplo: ‘que coisa feia, ninguém gosta de criança que bate’. A criança ou o
jovem percebe o mundo de um jeito muito diferente do nosso, e a medida que
escutam constantemente frases intimidadoras (que dizemos sem perceber) vão
criando suas imagens de si mesmos e construindo crenças limitantes que levarão
para a vida adulta”, pontua a psicóloga Joana
Simielli, que é especialista em psicologia clínica com aprimoramento
profissional em Ludoterapia e Educadora Parental.
Além de trazer benefícios aos estudantes, a CNV
também auxilia na comunicação interna da escola e, como consequência, reflete
na comunicação entre pais, mães e filhos. “Ambientes em que a
conversa é estimulada e nutrida tendem a ser mais pacíficos e equilibrados.
Estabelecer uma linguagem mais conectada com a nossa humanidade e a do outro
transforma as relações e ambientes e certamente reverbera nas relações com
todos ao nosso redor, inclusive do aluno com o seu pai”, afirma.
Tanto no espaço educacional quanto ao lado da
família, a profissional afirma que as crianças precisam de ambientes onde
exista espaço para expor sua opinião.
“Elas precisam de ambientes onde erros são
vistos como possibilidades de aprendizagem, e não como sentenças do certo ou
errado, onde suas emoções e necessidades são vistas e consideradas pelos
adultos que a cercam, onde a cooperação seja estimulada ao invés de competição.
Com essas e muitas outras mudanças, essas crianças se tornarão adultos mais
flexíveis, abertos, disponíveis, com grande confiança em si mesmos e
consequentemente, com muita capacidade de trabalhar e guiar pessoas pelo
caminho”, destaca.
Para a administradora e coach em empreendedorismo
Karina Fontes Soares, a prática de diálogos positivos na infância é fundamental
para a formação líderes. “Uma criança motivada a resolver conflitos
através do diálogo, terá este hábito em sua essência. Na fase adulta, terá
grandes chances de ser um intermediador de conflitos, aumentando assim as
chances de exercer cargos de liderança e confiança, visto que o perfil
‘pacificador’ é o mais procurado pelas empresas para exercerem estes cargos”,
enfatiza.
Como estimular a Comunicação Não Violenta na sala
de aula
De acordo com Educadora Parental Joana Simielli, a
primeira mudança de comportamento precisa partir do educador.
“Quando o educador muda a forma de falar, não
rotulando os comportamentos, incentivando a busca por soluções coletivamente,
escutando os alunos com empatia e atenção, acaba por incentivar que eles façam
o mesmo com ele e com os demais colegas”, explica.
A coach Karina Fontes Soares ressalta ainda que a
falha de comunicação gera falta de produtividade e desmotivação. “Tive
um professor que me fazia sentir um zero à esquerda. Quanto mais ele falava,
menos eu entendia. Certa vez, conversando com os colegas da classe, percebi que
não acontecia apenas comigo. Decidi trocar o dia daquela matéria, pois assim
trocaria o professor. Nossa, foi libertador! Com o novo professor, conseguia
entender tudo com clareza e acabei me apaixonando pela matéria”,
lembra. “Muitos líderes fracassam por não saberem comunicar-se com
clareza e eficácia”, completa.
Como você pôde ver, a comunicação não
violenta como um todo é de extrema importância para uma escola, desde a
comunicação dos professores com as crianças, até dos diretores e coordenadores
com os
*O nome é fictício, utilizado para preservar
a identidade da crianças
Como diretores de escola
podem se relacionar melhor com professores?
3 min de leitura
Diretores de escola possuem diversas
responsabilidades. Administrar, zelar pela qualidade pedagógica e de gestão são
algumas para que a relação com a comunidade seja mais saudável.
Dos pontos-chave para o desenvolvimento de suas
funções, manter bom relacionamento com professores se destaca. Pois esses podem
contribuir para facilitar e otimizar as ações promovidas pelo diretor.
Mas como diretores podem se relacionar melhor com
os docentes? Qual a importância do envolvimento na vivência em sala de aula?
Este é o assunto do nosso post de hoje. Confira!
Trabalhe em
equipe em prol do sucesso institucional
Sua relação com o professor não precisa e nem deve ser
vertical. É extremamente importante que ambos consigam desenvolver trabalho em
equipe. O que inclui respeitar as limitações de cada função para contribuir
para o crescimento sólido e gradativo da instituição.
Para isso, é imprescindível que você desenvolva
competências gerenciais diversas. Dentre elas, implemente rotinas motivadoras,
disciplinadas e que transpareçam bons resultados e desafios, de forma
harmoniosa e saudável.
Seja um
gestor inspirador
Você deve apresentar habilidades gerenciais que
passem confiança e inspirem a equipe escolar. Por isso, tenha boa visão
democrática e seja um bom mediador de conflitos.
Demonstre que gosta do contato com os outros, das
relações interpessoais e esteja aberto aos desafios. Precisa, sobretudo,
demonstrar prazer em desenvolver seu ofício.
Realize
reuniões periodicamente
As reuniões formais surgem como ótimas aliadas ao
desenvolvimento institucional. Nas escolas, os encontros periódicos entre
professores, diretores e coordenadores pedagógicos são muito eficientes.
Representam momentos de pontuar as necessidades e
falhas de cada área. O que permite a definição de estratégias pedagógicas e o
acompanhamento das medidas paliativas e corretivas.
Ambas são igualmente importantes, pois possibilitam
conhecer diferentes pontos de vista, viabilizando a integração de toda a equipe
pedagógica.
Invista em
comunicação
Embora as atribuições sejam um pouco diferentes,
você não deixa de ser um educador. E como todo educador, precisa demonstrar as
melhores maneiras de aprender.
Dentre as mais importantes está a partilha de
informações. Os melhores, mais eficientes e significativos aprendizados surgem
nos grandes debates acadêmicos. Pois muitas vezes precisamos da visão do outro
para integrar pensamentos e definir estratégias mais coesas e fortalecidas.
Por isso,
incentive a comunicação e represente fielmente o modelo de comunicador.
Felizmente, existem tecnologias que podem ajudar os
diretores de escola. Atualmente, aplicativos de comunicação escolar são uma
excelente ferramenta educacional. Podem inclusive substituir a agenda escolar,
conectando escolas, professores, pais e alunos de forma simples e eficiente.
Mantenha
contato com a sala de aula
É extremante importante que você tenha contato com
a rotina em sala de aula. Só será possível ter mais visão dos problemas na
educação ao se envolver na rotina dos professores em classe.
Esse contato periódico contribuirá para que você
tenha um olhar mais atento. Acompanhe pessoalmente as condições de aprendizagem,
os fatores que atrapalham ou beneficiam o processo educacional. Além disso,
esse contato possibilita observar táticas de ensino dos docentes e a forma como
são recebidas pelos alunos.
Fonte: https://escolasexponenciais.com.br/desafios-contemporaneos/comunicacao-nao-violenta-nas-escolas/
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