O especialista espanhol em Psicologia Educativa Guillermo Ballenato escreveu o livro Educar sem Gritar. O autor aborda as bases de uma educação integral e a importância de saber ouvir os mais novos.
Sara R. Oliveira
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Educar sem Gritar é o mais recente livro do espanhol Guillermo Ballenato. O autor, especialista em Psicologia Educativa e Psicologia Clínica, aponta caminhos para uma educação mais sólida e eficaz com crianças e adolescentes. Sem alterar o tom de voz. Na sua opinião, é preciso compreender a perda de controlo de pais e educadores. E é necessário separar as águas. Gritar pontualmente é diferente de um estilo de comunicação agressivo e sistemático. "Os gritos surgem da sensação de impotência e perda de autoridade dos pais", afirma.
"O autoritarismo que se exercia há algumas décadas converteu-se numa permissividade tão ineficaz como contraproducente". Ballenato, que atualmente trabalha no Programa de Aperfeiçoamento Pessoal e Assessorias Técnicas de Estudo do Gabinete Psicopedagógico da Universidade Carlos II de Madrid, refere que há pais ameaçados pelas crianças que também gritam. E não se pode dizer a gritar que não se deve gritar.
Afeto, motivação, elogio e reconhecimento. O psicólogo considera que estes são alguns dos ingredientes essenciais para um bom ambiente familiar. Ballenato defende também que o professor "deve ser um modelo, uma referência moral, um exemplo de conduta". "A educação eficaz consiste em conseguir o equilíbrio entre a firmeza e a flexibilidade, a razão e as emoções, o controlo e a liberdade", escreve no seu livro. Um "manual" que dedica "a todas aquelas pessoas que têm o privilégio de educar e que, conscientes da sua responsabilidade, todos os dias o tentam aperfeiçoar".
EDUCARE.PT: Educar sem Gritar é o título do seu novo livro. Uma receita possível de concretizar?
Guillermo Ballenato: O conhecimento da complexidade do ser humano ensina-nos que não há receitas que sirvam para todos os casos da mesma maneira. Cada pai ou mãe, cada menino ou menina, cada família, cada grupo de classe são diferentes. Sou um apaixonado pela comunicação e educação e, neste livro, quis partilhar e dar a conhecer a validade de alguns princípios básicos que se devem ter em conta na hora de abordar a tarefa de educar. Este manual foi gerado com emoção, durante muitos anos de trabalho, observação, reflexão e experiência. Estou convencido de que o público, tão culto e ávido de conhecimento, o receberá com a mesma recetividade e êxito que está a ter em Espanha.
E: Os pais, educadores e professores devem sentir-se culpados quando gritam com crianças e jovens?
GB: Devemos ser compreensivos com a perda de controlo de muitos educadores no desempenho de uma tarefa tão complexa e difícil. Não é o mesmo uma perda de controlo pontual e um estilo de comunicação agressivo e autocrático sistemático. Em qualquer caso, não faz sentido culpabilizarem-se. É difícil encontrar a serenidade necessária para educar quando a pessoa se sente invadida por sentimentos de culpa. É preferível aprender com o erro e retificar. O que é verdadeiramente importante é adquirir estratégias educativas alternativas que sejam mais positivas.
E: Que conselhos dá para que se eduque sem alterar o tom de voz?
GB: Quando os gritos surgem nas relações interpessoais convém analisar várias questões: em que contexto se produzem, com que frequência, quem perde habitualmente o seu papel... Os gritos surgem da sensação de impotência e perda de autoridade dos pais; em algumas ocasiões são fruto do seu próprio mal-estar pessoal. Um pai ou uma mãe felizes podem realizar melhor a sua tarefa de educar. Devem evitar sobredimensionar algumas questões secundárias, que podem perturbar as relações com os seus filhos e que não são assim tão importantes. Devem também aprender a contar até dez antes de falar e, inclusive, até cem. E, se em algum momento, perderem as estribeiras, saberem desculpar-se.
E: Apresenta vários conceitos básicos para uma educação positiva com crianças e adolescentes, como o respeito, o diálogo e o afeto. Se faltar um deles, é impossível educar?
GB: Pretendi abordar as bases de uma verdadeira educação integral. Evidenciei a importância de melhorar a comunicação a partir da compreensão e de uma escuta real dos filhos. Destaquei a importância da coerência e o sentido de imparcialidade e da justiça como elemento imprescindível para que os educadores possam ter autoridade moral. No ambiente familiar, considero essenciais o afeto, a motivação, o elogio e o reconhecimento. Assim como o desenvolvimento de princípios e valores humanos de convivência que possibilitem uma adequada integração social do jovem e a sua progressiva participação positiva na sociedade.
E: Como explicar a um pai ou a um professor que não deve gritar para impor o seu ponto de vista?
GB: Convém recordar os efeitos negativos dos maus modos da comunicação. O constante desgaste da autoridade, a perda da razão - mesmo quando realmente a têm -, os sentimentos de culpa, a diminuição da autoestima na criança, a perda de confiança e a deterioração das relações. A melhor forma de ensinar o autocontrolo aos filhos é mostrando-lhes com a nossa própria conduta. Há um maravilhoso aforismo latino que diz que "a palavra ensina, mas o exemplo arrasta". Não podemos pedir aos filhos que não levantem a voz e dizê-lo aos gritos. O diálogo baseia-se na escuta. Escutar o outro é deixar ser. É tentar entender e respeitar o seu ponto de vista.
E: Pela experiência que tem, em psicologia educativa, os pais gritam muito com os jovens? Em que situações o fazem mais?
GB: Não é a conduta habitual, mas nos últimos anos os gritos têm vindo acompanhados de um significativo empobrecimento cultural e educativo generalizado. É fácil de comprovar vendo os personagens que aparecem em diversos canais de televisão, a sua forma de expressar-se e atuar. É preciso recuperar o respeito. Uma tertúlia de televisão também é um modelo que educa. O autoritarismo que se exercia há algumas décadas converteu-se numa permissividade tão ineficaz como contraproducente. Mima-se e consente-se tudo aos filhos. Os pais acabam por se verem quase ameaçados pelas crianças que também gritam e que, na realidade, estão reclamando autoridade e normas claras. E quando querem recuperar parte desse poder, que tinham perdido, só lhes ocorre, em muitos casos, recorrer a gritos e a maus modos.
E: É o que se passa nas escolas? Um professor que pontualmente grita não é respeitado? Perde-se a autoridade quando se grita?
GB: A docência é uma tarefa muito complexa cujo valor deve reinvidicar-se continuamente como contribuição para melhorar a sociedade. O docente é um agente de mudança social. Há muitas formas de fazer valer a sua autoridade na aula. O professor deve ser um modelo, uma referência moral, um exemplo de conduta. Daí deriva a autoridade moral que lhe conferem os seus alunos, de um verdadeiro líder que se destaca pelo seu poder de influência. Há professores que perdem a sua autoridade devido à sua falta de sentido de equidade e de justiça, mostrando arbitrariedades, demonstrando favoritismos. Os alunos tendem a perder o respeito perante essas condutas. E os professores podem tentar manter uma autoridade meramente aparente, à base de castigos; ou então gritar e perder o controlo perante os seus alunos, com a consequente progressiva perda de autoridade.
E: Na sua opinião, qual o papel que as novas tecnologias estão a ter na educação dos mais novos?
GB: Um papel muito destacado. A Internet é uma font_tage inesgotável de informação que permite satisfazer a curiosidade dos jovens. O que devemos aprender é a despertar neles essa curiosidade, esse desejo de investigar, de saber, de descobrir. Há que também ensinar a manusear adequadamente essas novas tecnologias, de modo que cumpram uma função verdadeiramente educativa, que não é incompatível com o seu carácter lúdico. Por outro lado, as novas tecnologias, mal entendidas, podem levar à retração e à perda de habilidades sociais dos jovens, assim como ao empobrecimento da linguagem, que tende a simplificar-se, e ao descuido na escrita em determinados suportes informáticos. Uma boa supervisão - e não me refiro ao controlo - por parte dos pais conduz a um uso adequado e ao aproveitamento de todas as vantagens que acompanham as novas tecnologias.
"O autoritarismo que se exercia há algumas décadas converteu-se numa permissividade tão ineficaz como contraproducente". Ballenato, que atualmente trabalha no Programa de Aperfeiçoamento Pessoal e Assessorias Técnicas de Estudo do Gabinete Psicopedagógico da Universidade Carlos II de Madrid, refere que há pais ameaçados pelas crianças que também gritam. E não se pode dizer a gritar que não se deve gritar.
Afeto, motivação, elogio e reconhecimento. O psicólogo considera que estes são alguns dos ingredientes essenciais para um bom ambiente familiar. Ballenato defende também que o professor "deve ser um modelo, uma referência moral, um exemplo de conduta". "A educação eficaz consiste em conseguir o equilíbrio entre a firmeza e a flexibilidade, a razão e as emoções, o controlo e a liberdade", escreve no seu livro. Um "manual" que dedica "a todas aquelas pessoas que têm o privilégio de educar e que, conscientes da sua responsabilidade, todos os dias o tentam aperfeiçoar".
EDUCARE.PT: Educar sem Gritar é o título do seu novo livro. Uma receita possível de concretizar?
Guillermo Ballenato: O conhecimento da complexidade do ser humano ensina-nos que não há receitas que sirvam para todos os casos da mesma maneira. Cada pai ou mãe, cada menino ou menina, cada família, cada grupo de classe são diferentes. Sou um apaixonado pela comunicação e educação e, neste livro, quis partilhar e dar a conhecer a validade de alguns princípios básicos que se devem ter em conta na hora de abordar a tarefa de educar. Este manual foi gerado com emoção, durante muitos anos de trabalho, observação, reflexão e experiência. Estou convencido de que o público, tão culto e ávido de conhecimento, o receberá com a mesma recetividade e êxito que está a ter em Espanha.
E: Os pais, educadores e professores devem sentir-se culpados quando gritam com crianças e jovens?
GB: Devemos ser compreensivos com a perda de controlo de muitos educadores no desempenho de uma tarefa tão complexa e difícil. Não é o mesmo uma perda de controlo pontual e um estilo de comunicação agressivo e autocrático sistemático. Em qualquer caso, não faz sentido culpabilizarem-se. É difícil encontrar a serenidade necessária para educar quando a pessoa se sente invadida por sentimentos de culpa. É preferível aprender com o erro e retificar. O que é verdadeiramente importante é adquirir estratégias educativas alternativas que sejam mais positivas.
E: Que conselhos dá para que se eduque sem alterar o tom de voz?
GB: Quando os gritos surgem nas relações interpessoais convém analisar várias questões: em que contexto se produzem, com que frequência, quem perde habitualmente o seu papel... Os gritos surgem da sensação de impotência e perda de autoridade dos pais; em algumas ocasiões são fruto do seu próprio mal-estar pessoal. Um pai ou uma mãe felizes podem realizar melhor a sua tarefa de educar. Devem evitar sobredimensionar algumas questões secundárias, que podem perturbar as relações com os seus filhos e que não são assim tão importantes. Devem também aprender a contar até dez antes de falar e, inclusive, até cem. E, se em algum momento, perderem as estribeiras, saberem desculpar-se.
E: Apresenta vários conceitos básicos para uma educação positiva com crianças e adolescentes, como o respeito, o diálogo e o afeto. Se faltar um deles, é impossível educar?
GB: Pretendi abordar as bases de uma verdadeira educação integral. Evidenciei a importância de melhorar a comunicação a partir da compreensão e de uma escuta real dos filhos. Destaquei a importância da coerência e o sentido de imparcialidade e da justiça como elemento imprescindível para que os educadores possam ter autoridade moral. No ambiente familiar, considero essenciais o afeto, a motivação, o elogio e o reconhecimento. Assim como o desenvolvimento de princípios e valores humanos de convivência que possibilitem uma adequada integração social do jovem e a sua progressiva participação positiva na sociedade.
E: Como explicar a um pai ou a um professor que não deve gritar para impor o seu ponto de vista?
GB: Convém recordar os efeitos negativos dos maus modos da comunicação. O constante desgaste da autoridade, a perda da razão - mesmo quando realmente a têm -, os sentimentos de culpa, a diminuição da autoestima na criança, a perda de confiança e a deterioração das relações. A melhor forma de ensinar o autocontrolo aos filhos é mostrando-lhes com a nossa própria conduta. Há um maravilhoso aforismo latino que diz que "a palavra ensina, mas o exemplo arrasta". Não podemos pedir aos filhos que não levantem a voz e dizê-lo aos gritos. O diálogo baseia-se na escuta. Escutar o outro é deixar ser. É tentar entender e respeitar o seu ponto de vista.
E: Pela experiência que tem, em psicologia educativa, os pais gritam muito com os jovens? Em que situações o fazem mais?
GB: Não é a conduta habitual, mas nos últimos anos os gritos têm vindo acompanhados de um significativo empobrecimento cultural e educativo generalizado. É fácil de comprovar vendo os personagens que aparecem em diversos canais de televisão, a sua forma de expressar-se e atuar. É preciso recuperar o respeito. Uma tertúlia de televisão também é um modelo que educa. O autoritarismo que se exercia há algumas décadas converteu-se numa permissividade tão ineficaz como contraproducente. Mima-se e consente-se tudo aos filhos. Os pais acabam por se verem quase ameaçados pelas crianças que também gritam e que, na realidade, estão reclamando autoridade e normas claras. E quando querem recuperar parte desse poder, que tinham perdido, só lhes ocorre, em muitos casos, recorrer a gritos e a maus modos.
E: É o que se passa nas escolas? Um professor que pontualmente grita não é respeitado? Perde-se a autoridade quando se grita?
GB: A docência é uma tarefa muito complexa cujo valor deve reinvidicar-se continuamente como contribuição para melhorar a sociedade. O docente é um agente de mudança social. Há muitas formas de fazer valer a sua autoridade na aula. O professor deve ser um modelo, uma referência moral, um exemplo de conduta. Daí deriva a autoridade moral que lhe conferem os seus alunos, de um verdadeiro líder que se destaca pelo seu poder de influência. Há professores que perdem a sua autoridade devido à sua falta de sentido de equidade e de justiça, mostrando arbitrariedades, demonstrando favoritismos. Os alunos tendem a perder o respeito perante essas condutas. E os professores podem tentar manter uma autoridade meramente aparente, à base de castigos; ou então gritar e perder o controlo perante os seus alunos, com a consequente progressiva perda de autoridade.
E: Na sua opinião, qual o papel que as novas tecnologias estão a ter na educação dos mais novos?
GB: Um papel muito destacado. A Internet é uma font_tage inesgotável de informação que permite satisfazer a curiosidade dos jovens. O que devemos aprender é a despertar neles essa curiosidade, esse desejo de investigar, de saber, de descobrir. Há que também ensinar a manusear adequadamente essas novas tecnologias, de modo que cumpram uma função verdadeiramente educativa, que não é incompatível com o seu carácter lúdico. Por outro lado, as novas tecnologias, mal entendidas, podem levar à retração e à perda de habilidades sociais dos jovens, assim como ao empobrecimento da linguagem, que tende a simplificar-se, e ao descuido na escrita em determinados suportes informáticos. Uma boa supervisão - e não me refiro ao controlo - por parte dos pais conduz a um uso adequado e ao aproveitamento de todas as vantagens que acompanham as novas tecnologias.
As escolhas de... Guillermo Ballenato Citação "Educai as crianças e não será necessário castigar os homens", de Pitágoras LivroMuitos livros de contos Zen... Música Johann Sebastian Bach, "Jesus bleibet meine Freude (BWV 147)" Autor Anthony de Mello Político Mahatma Gandhi Viagem À China, ainda por realizar. Memória de infânciaA chegada da democracia a Espanha. Sonho por realizarCada dia é um sonho por cumprir. |
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Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.