01-03-2011 | |
Vera Lúcia Pereira dos Santos Doutora em Linguística e em Língua Portuguesa e suporte pedagógico de Português no Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br) Não constitui surpresa saber que caiu o número de formandos em cursos que preparam docentes. O desinteresse dos adolescentes pelo magistério não se revelou repentinamente. É reflexo de um processo que vem se corporificando há muito tempo no exercício do magistério, aliado à decadência do ensino público monitorado por políticas públicas equivocadas. Como professora de escola pública nas décadas de 1970, 80 e 90, fui testemunha da aplicação de leis, regimentos e normas pretensamente democráticas, inovadoras e revolucionárias, impostas ao professor como panacéias solucionadoras de todos os problemas educacionais. A escola transformou-se em entidade predominantemente assistencialista e ao mestre era atribuída toda a responsabilidade pelo insucesso do aluno - a reprovação, se ultrapassada determinada porcentagem, era sinônimo de incompetência didática. O professor foi perdendo sua autonomia e, sem ela, sente-se desprestigiado, desmotivado e desestimulado e seu aluno percebe esse desencanto. Para esse processo de desconstrução, vários outros fatores contribuíram. Entre eles, ainda da perspectiva do docente, destaco o tratamento dispensado aos cursos de formação de professores da Educação Básica. Aos docentes que atuavam nesses cursos recomendava-se, não oficialmente, agir com complacência e não exigir muito do aluno na atividade didática. Isso porque o perfil da clientela, segundo orientadores e diretores de escola, era formado por adolescentes menos favorecidos economicamente e com poucos subsídios culturais e que, muitas vezes, ignoravam o alcance de sua vocação. Não seria essa uma forte razão para se elevar o nível desses jovens, futuros mentores da fase mais importante e decisiva do ensino, a alfabetização? O que pensar de cursos de graduação em Pedagogia que serviram durante algum tempo de meio de aquisição de maior remuneração para docentes e acesso à classificação privilegiada na atribuição de aulas? Via e vejo nessa atitude facilitadora e desvirtuada uma contradição que só poderia resultar no quadro preocupante que hoje mobiliza institutos de pesquisas, educadores e especialistas em educação para tentar revertê-lo. A ausência de atração pela carreira docente entre estudantes do Ensino Médio soma-se ao desalento do magistério e cria uma lacuna perigosa na formação de outros profissionais? Quem irá orientá-los? Qual é a saída desse labirinto? É óbvio que há soluções e elas já foram apresentadas por pesquisadores abalizados como Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas. Agora falta aplicá-las. Os professores estão fugindo não por covardia, mas em busca da própria dignidade |
"Estou semeando as sementes da minha mais alta esperança. Não Busco discípulos para comunicar saberes. Busco discípulos, para neles plantar MINHAS ESPERANÇAS" Rubem Alves
sexta-feira, 4 de março de 2011
Professores em fuga
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Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.