Escolas e pais têm um novo desafio: se preparar para educar a geração Alpha, nascida depois de 2010, em um contexto global totalmente diferente, com tecnologias avançadas e muito mais informação
A chamada geração Alpha são as crianças que nasceram depois do ano 2010 – a mais nova geração deste século 21. O termo foi usado pela primeira vez pelo sociólogo australiano Mark McCrindle, em março de 2010, e seu nome tem origem na primeira letra do alfabeto grego, “a”.
A geração Alpha nasceu em um contexto global no qual as novas tecnologias estão bem mais desenvolvidas do que há dez anos. O uso dessas ferramentas tecnológicas, hoje, é diferente, os desafios ambientais são mais preocupantes e a quantidade de informações com as quais lidamos no dia a dia nunca foi tão grande.
“Acredito que o importante ao se falar da geração Alpha é iluminar a primeira infância, que é a fase mais importante da vida. Investir na primeira infância previne problemas em todas as esferas de uma sociedade”, diz Fernanda Furia, mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London, de Londres, e fundadora do Playground da Inovação, consultoria de psicologia e educação.
As crianças da geração Alpha são muito curiosas, espertas e ligadas em tudo à sua volta; terão, provavelmente, o maior nível educacional de todas as gerações; começarão a estudar mais cedo; serão as primeiras a experimentar um novo sistema escolar, mais personalizado e híbrido (on-line e off-line), com foco na autonomia do aluno e no aprendizado, baseado em projetos para aprender por meio de situações do cotidiano; e vão deter o maior conhecimento tecnológico da história.
“Em pleno desenvolvimento, é precoce afirmar o que pensam, mas a tendência indica que sejam muito mais independentes que suas antecessoras e com habilidade de adaptação a novas tecnologias”, afirma a psicóloga Vanessa Vieira Beraldo. “A mobilidade da tecnologia atual também auxilia bombardearmos esta geração com cores e formas de educação em todos os lugares e momentos, gerando uma aceleração ainda maior no processo de desenvolvimento”, complementa.
“A geração Alpha é um grupo extremamente novo e em pleno desenvolvimento, não havendo ainda modelos de educação bem definidos ou preestabelecidos”
Além disso, elas se relacionarão de forma menos hierárquica, serão desde cedo criadoras de conteúdo, de produtos e serviços, viverão em um mundo mais interconectado com a “internet das coisas” (próximo estágio da evolução digital, onde objetos do cotidiano estarão interconectados), realidade aumentada, tecnologia no corpo, impressora 3D/4D e terão produtos e serviços personalizados e sob medida.
“Tudo isso vai impactar a maneira de a geração Alpha consumir serviços, produtos e informação. Além de se refletir na forma como as pessoas se relacionarão entre elas e com as coisas”, avalia Fernanda Furia.
Para o neuropsiquiatra e psicoterapeuta Tabajara Dias de Andrade, diretor do Centro Latino-Americano de Desenvolvimento, de Campinas, o futuro dessas crianças também resultará em um novo mundo. “Em qualquer fase da nossa vida, somos o resultado de múltiplos fatores que nos determinam: carga genética, ambiente, estímulos e experiências, associados a algo fantástico e indescritível que é a nossa soberania e livre arbítrio, que fazem de cada pessoa um ser único”, afirma.
“Essas crianças nasceram em um mundo totalmente novo para elas – porque estão explorando tudo pela primeira vez – e também para nós – pois vivemos novidades e desestruturações surpreendentes. Muito inteligentes, elas operam equipamentos eletrônicos com uma facilidade incrível. O pensamento, moldado e estimulado por esta nova realidade, certamente trilhará caminhos diferentes dos vividos pelas gerações anteriores”, diz.
PAIS E PROFESSORES
A geração Alpha é um grupo extremamente novo e em pleno desenvolvimento, não havendo ainda modelos de educação bem definidos ou preestabelecidos. A percepção é de que se caminha, cada vez mais, para uma forma de ensino voltada para as necessidades e interesses dos alunos, e menos para o padrão sistematizado e hierárquico de tempos atrás.
“Desta forma, pais e professores deixam de ser educadores e passam a ser mentores, com foco maior na orientação de uma geração que tem acesso às informações na palma da mão. Segundo Jean Piaget (1896-1980), cabe ao professor acreditar na potencialidade de seus alunos e organizar experiências que lhes possibilitem interagir com os saberes
formalizados”, analisa a psicóloga Vanessa Vieira Beraldo.
formalizados”, analisa a psicóloga Vanessa Vieira Beraldo.
Os desafios para os pais e escolas ao lidar com as crianças dessa geração, portanto, estão mudando. De um lado, os pais estão sobrecarregados em razão de um contexto de vida muito corrido e com pouco espaço para reflexão, principalmente nas grandes cidades. As escolas estão sem saber como engajar as novas gerações, porque os alunos não se interessam mais pela forma de ensinar que ainda predomina.
“Hoje, mais do que nunca, é preciso ajudar as crianças a desenvolver habilidades que servirão de alicerce para enfrentar os desafios do cotidiano. As chamadas competências socioemocionais têm sido cada vez mais valorizadas pelos educadores e empregadores em vários países”, lembra Fernanda Furia.
Programas específicos para o ensino dessas competências nas escolas têm sido bastante discutidos e implementados, por exemplo, na Finlândia, Estados Unidos, Austrália e Canadá.
A habilidade para lidar com as emoções e para se comunicar, criatividade, responsabilidade, determinação, empatia, capacidade para tomar decisões e para resolver problemas são exemplos do que a vida exige das pessoas. “Ajudar as novas gerações a desenvolvê-las é responsabilidade dos pais, da escola e de toda a sociedade”, diz Fernanda Furia.
Com tudo isso, surge um novo papel para o professor: o de mentor e orientador dos alunos. A função principal não é mais de transmitir informação, porque as novas tecnologias podem fazer isso de forma eficiente também. O professor, agora, será cada vez mais importante como referência de inspiração e de valores, para guiar o aluno
em seu aprendizado e ajudá-lo a conhecer os seus talentos, limitações e aspirações.
em seu aprendizado e ajudá-lo a conhecer os seus talentos, limitações e aspirações.
Outro ponto fundamental é o de educar para uma cidadania digital. Isto significa ensinar as crianças a usar a internet e as novas tecnologias de forma responsável, ética e apropriada. Desta forma, será possível prevenir muitos casos de bullying, de exposição excessiva, de crimes cibernéticos etc.
Algumas escolas no Brasil já buscam sintonia com as tendências em educação no resto do mundo, para oferecer um ensino mais alinhado às necessidades do século 21. No entanto, a maioria delas, tanto públicas quanto privadas, ainda têm um caminho longo pela frente.
“A grande quantidade de estímulos que estas crianças recebem fora da escola faz com que demandem por processos pedagógicos mais adequados, modernos e dinâmicos. Modernizar uma escola não significa equipá-la com máquinas modernas a serviço de uma pedagogia obsoleta. Quanto aos pais, creio que se beneficiariam muito em estar mais próximos de seus filhos e aprender com eles. Mais frequentemente falamos sobre a falta que os pais fazem na vida dos filhos, mas nos esquecemos dos imensos benefícios que os adultos têm no convívio com a gerações mais novas”, analisa Tabajara Dias de Andrade, neuropsiquiatria e psicoterapeuta.
Muitas das crianças pequenas de hoje apresentam marcos do desenvolvimento mais precoces do que as gerações anteriores. Por exemplo, a famosa fase dos “porquês”, quando a criança pergunta sobre todas as coisas, já começa a ser notada por volta dos dois anos e meio de idade ou três, quando costumava surgir aos cinco.
“É difícil generalizar sobre o que as crianças pequenas pensam e são atualmente. O contexto em que vivem influencia a maneira de agirem e pensarem. Mas, uma coisa é universal e não mudou: a criança pequena é extremamente criativa, curiosa e sedenta por muito contato afetivo e social”, explica Fernanda Furia.
Portanto, as crianças pequenas precisam mais do que nunca de adultos com capacidade de se interessar por elas e de refletir sobre o que elas necessitam; com ética, para ensinar valores importantes e, acima de tudo, capazes de amar e dar carinho em um mundo nunca antes tão complexo.
Antes da geração Alpha, muito se discutiu as gerações X, Y e Z. A primeira (X) foi formada pelas pessoas nascidas entre 1960 e 1980. A Y, entre 1980 e 2000. E a Z, entre 2000 e 2010. Cada geração apresenta características próprias e inúmeras diferenças entre si.
A geração X demonstra competência e valorização do seu crescimento, pensando em uma estabilidade profissional. Hoje, começam a ser mais flexíveis no mundo corporativo, conseguindo manter-se com suas qualidades.
A geração Y era definida como os jovens que valorizam o prazer na vida e no trabalho, e que procuram uma qualidade de vida e um propósito profissional.
A geração Z são os adolescentes e jovens profissionais que nasceram em um contexto mais globalizado, no qual usufruem da tecnologia desde pequenos. São chamados “nativos digitais” e só entendem a vida com a internet e com as diferentes tecnologias. Por isso, a geração Z sente-se muito à vontade para se relacionar por meio das redes sociais e, na maioria das vezes, prefere este meio de comunicação. Inovação e velocidade são parte da vida deles.
As características e necessidades dessas gerações estão promovendo uma transformação nas estruturas das escolas, das empresas e do formato de trabalho.
Menos hierarquia, ambientes profissionais mais lúdicos, horários mais flexíveis e trabalhos mais colaborativos e remotos são algumas mudanças impostas pelas novas gerações. “Os cursos têm se tornado mais curtos, práticos e focados no mercado de trabalho e na criação de novos serviços que atendam as reais demandas das pessoas. A forma de comunicação também tem se transformado. Hoje, a linguagem mais visual e direta predomina”, explica a psicóloga Fernanda Furia.
Fonte: www.revistatutores.com.br
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