COMO LIDAR COM A INDISCIPLINA ESCOLAR
No início de 2015, foi divulgado o resultado de uma pesquisa feita pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que aponta o Brasil como sendo o país que mais perde tempo em sala de aula contendo a indisciplina dos alunos.
Essa organização pesquisa dados em países como Finlândia, Suécia, República Tcheca, Malásia, Holanda, Estados Unidos, México, Estônia, França, Canadá, Chipre, entre outros.
Os resultados apontaram números alarmantes sobre o uso do tempo em sala de aula no Brasil:
- 20% do tempo é utilizado para acalmar os alunos e organizar a classe
- 13% do tempo é utilizado para lidar com assuntos burocráticos
- 67% do tempo, pouco mais da metade, é usado para a aula propriamente dita
Para ter uma ideia da situação, a média do OCDE é de 13% para as questões disciplinares.
A pesquisa, segundo dados divulgados pelo G1, também revela outros números: 60% dos professores apontam ter alunos-problema e o Brasil lidera o ranking de intimidação verbal entre alunos e professores.
O QUE É UM ALUNO-PROBLEMA?
- Um aluno que conversa muito?
- Que tem um comportamento agressivo ou expansivo que acaba atrapalhando a aula?
- Que foi mal alfabetizado e tem dificuldades na escrita?
- Que apresenta algum transtorno de aprendizagem?
- Que tem hiperatividade, TDAH ou Síndrome de Asperger?
Ao certo não há um consenso sobre quais são as características de um aluno-problema.
Rotular os alunos como sendo um problema e transferir a culpa do fracasso escolar para o próprio educando parece ser algo perverso, sabendo que lidamos com crianças e adolescentes que, muitas vezes, têm dificuldades em compreender o que sentem e explicar ou resolver seus conflitos de maneira madura.
A indisciplina escolar pode começar sendo tratada assim: despindo os alunos de rótulos e tendo uma visão mais otimista sobre a educação.
Fazer longos discursos em sala de aula sobre a importância de estudar, lembrar aos alunos que o conhecimento é para eles e não para o professor, passar 20 minutos dando bronca, são atitudes que vão contribuir para a indisciplina pelo simples fato de isso gerar tédio nos seus alunos.
Sim, você pode estar deixando seus alunos entediados e, como citado anteriormente, são crianças e adolescentes que não conseguem compreender que sentem tédio e o que devem fazer para lidar com isso.
Ao invés de toda essa chatice da sua parte, professor, que tal motivar os alunos para uma atividade dinâmica e desafiadora que instigue a sua curiosidade?
O QUE É INDISCIPLINA ESCOLAR?
Geralmente, quando pensamos em indisciplina, automaticamente relacionamos com conversa, bagunça e até violência na escola.
A conversa pode atrapalhar a aula, mas pode ter certeza de que uma turma que não conversa é bem pior para desenvolver conhecimentos. Quando há conversa, há diálogo, troca de vivências, relacionamento entre os educandos e entre o professor também.
Partindo da ideia de que, numa boa partida de futebol, quem corre é a bola e não o jogador, o professor deve falar menos e deixar que os alunos produzam mais: conversar, debater, discutir, propor soluções, trocar ideias, opinar, problematizar, analisar, e aprender significativamente.
Professor que fala muito acaba se desgastando e desperdiçando aqueles 67% do tempo que sobra para a explanação do conteúdo, pois a média de atenção do aluno é de, no máximo, um minuto e meio para cada ano de idade.
Portanto, um aluno de 10 anos só consegue ouvir o professor com atenção por, no máximo, 15 minutos (1,5 x 10). Isso explica por que aquela sua aula expositiva não funciona.
O PROFESSOR TEM CULPA PELA INDISCIPLINA?
Colega professor: somos profissionais. Desde o início da nossa formação sempre soubemos com quais ossos do ofício deveríamos lidar.
Se coloco todas essas questões para questionamento, é pelo fato de ser nosso trabalho.
Claro, existem casos de indisciplina que não são fáceis de lidar e devem contar com um acompanhamento especializado.
A profissão que escolhemos exige constante aperfeiçoamento, um eterno buscar saber mais e, devido a isso, imagino, você está lendo este texto e refletindo comigo.
O que precisamos fazer imediatamente é, como diz Sílvia Gasparian Colello, parar de jogar o “jogo da culpabilização”:
- a escola culpa a família que não educa;
- a família culpa a escola;
- família e escola culpam as mudanças na estrutura familiar causadas pelas imposições da atualidade.
No meio desse jogo, está o nosso aluno pedindo ajuda, olhar e atenção.
Fica o meu convite: vamos repensar nossa prática pedagógica?
COMO COMBATER A INDISCIPLINA
A reflexão sobre nossas ações deve ser parte do cotidiano, não apenas no âmbito profissional. Repensar significa comemorar os acertos e corrigir os erros — este é o caminho que nos leva ao sucesso.
Há uma série de ações, das mais simples às mais complexas, que precisamos pensar a respeito de nossa prática dentro e fora da sala de aula.
A lista abaixo propõe caminhos que vão lhe ajudar em sua própria organização, proporcionando a segurança necessária aos alunos em relação à figura de autoridade que está diante deles. Isso irá contribuir para combater os principais problemas de disciplina, seja na Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio.
1. ESTABELEÇA AS REGRAS DESDE O PRIMEIRO DIA DE AULA
“A primeira impressão é a que fica”. Quem não conhece esse ditado? Pois é, ele traduz exatamente a postura que o professor deve ter desde o primeiro dia de aula.
Dite as regras do jogo para que os alunos saibam jogar. Dizer o que se espera da criança ou do adolescente é o primeiro passo para que façam o que é estabelecido.
Exigir silêncio e compromisso quando já ninguém respeita é impossível.
Para ilustrar a importância desta etapa, leia o poema abaixo.
2. TENHA CERTEZA DE QUE SEU ALUNO SABE O QUE PODE E O QUE NÃO PODE FAZER
Essa dica está relacionada à anterior.
As regras devem ser claras e devem ser de conhecimento de todos. Afinal, é fácil cometer algum deslize quando desconhecemos alguma regra e, dessa maneira, criam-se as controvérsias, pois abre-se espaço para o “disse-e-não-disse”.
Por via das dúvidas, vamos deixar tudo esclarecido, não é mesmo?
3. ASSUMA AS REGRAS DA ESCOLA
Se a escola estabelece regras e o professor não cumpre, por que um aluno irá cumprir uma regra estabelecida pelo professor?
Não deseduque seus alunos. Seja profissional. Assuma as regras da sua instituição de ensino, juntamente com toda a equipe.
A escola, por sua vez, deve ser um espaço para troca de experiências entre os professores, por isso algumas regras devem ser estabelecidas democraticamente, não serem uma imposição inquestionável.
4. NÃO CHEGUE ATRASADO
O professor que costuma se atrasar, quando chega, é uma decepção para o aluno.
A turma já estava em euforia pensando que teria uma aula extra de Educação Física e lá está você, chegando atrasado. Pronto. Sua aula, que você demorou para preparar e que tem atividades dinâmicas e divertidas, já começou sendo uma frustração.
Você se perde em meio a planos de aula e correções, correndo de aula para aula, cafezinho na mão, sem um minuto para você mesmo? Eu era assim até pouco tempo atrás, quando descobri essa preciosidade.
O livro vem com ótimas estratégias para ajudá-lo a aliviar a carga de trabalho e garantir que você tenha pelo menos algum tempo para relaxar durante o período letivo. Você vai precisar de apenas quinze minutos para ler cada seção. Ele traz exemplos práticos e atividades de autorrevisão, que personalizam o que você acabou de ler.
5. PROFESSOR BONZINHO NÃO É EDUCADOR
Educar é podar. Quem é pai ou mãe sabe muito bem a quantidade de “nãos” ditos diariamente para seu tesouro mais precioso.
Quando não podamos nossos alunos, quando somos bonzinhos e permissivos, deixamos que uma criança ou um adolescente tome as rédeas e decida pelo que bem entende. Não deve ser assim.
6. ASSUMA QUE O ALUNO DIFÍCIL É UM DESAFIO PEDAGÓGICO E NÃO “UM SACO”
Quem nunca presenciou os professores numa sessão desabafo no momento do intervalo?
Geralmente os alunos difíceis, aqueles que nos incomodam e nos tiram do sério, tornam-se uma pedra no sapato e acabamos despejando culpas sobre eles.
Quando temos um caso assim, devemos tomar como um desafio a ser superado, pensar de que maneira resolver esse quebra-cabeça. Tome como um desafio pessoal ou profissional.
No momento em que você considerar o aluno “um saco”, pode ter certeza de que isso prejudicará ainda mais a relação entre vocês e vai afetar a aprendizagem. Conquiste seus alunos. Faça-os jogar no seu time.
7. TENHA PAIXÃO PELO CONHECIMENTO
Um colega meu, professor de Geografia, ao longo de suas aulas, despertou a curiosidade dos seus alunos para o saber que ele adquiriu ao longo da sua trajetória de magistério.
Os educandos começaram a pesquisar, por conta própria, capitais de países para questionar o professor. Eles sonham com o dia em que o mestre não saberá uma resposta.
Esse meu colega é um professor fantástico: sabe muito e, por ter paixão pelo conhecimento, conquista o respeito dos seus alunos e desperta neles o gosto pela aventura do saber.
8. FAÇA DA SALA DOS PROFESSORES UM LUGAR PARA APRENDER MAIS SOBRE SEUS ALUNOS
Voltamos à sala dos professores. Imagine um lugar em que todos, em meio a cafezinhos, dividam experiências que dão certo em determinadas turmas.
Sem medo de repartir conhecimentos e informações, professores que são uma equipe ajudam-se mutuamente.
Às vezes a experiência que o colega divide pode mudar o rumo dos nossos planos de aula e mudar o comportamento dos educandos. Não custa tentar.
9. EVITE COMPARAÇÕES
Os alunos não gostam e não merecem comparações.
Em primeiro lugar, por que a educação não é nenhuma competição. O mundo por si só estimula a competir o tempo todo, não precisamos reforçar essa premissa. Segundo, pois as comparações nada mais são que um escorregão ético.
As informações sobre alunos, turmas e professores devem ser divididas apenas entre os profissionais envolvidos com o processo educativo.
10. TENHA O HÁBITO DE FAZER REGISTROS
Ai, ai. Com essa frase o respeito para com o professor já era. Tenha o hábito de fazer anotações e cumpra o que foi estabelecido, faça memória do que foi dito, exija do seu aluno. Nada pior do que um professor esquecido.
11. SEJA UM CUMPRIDOR DE PROMESSAS
Estabelecendo uma relação com a dica anterior: tudo que foi dito deve ser cumprido.
Quando uma exigência vira falácia, acaba-se o respeito também. Como uma mãe que diz: “se fizer isso vai ficar de castigo”. Pode funcionar por um tempo, mas se a mãe não cumprir, a criança não mais a respeitará quando usar esse bordão.
Então, aí está um detalhe importante: não diga o que não vai cumprir.
A criança e o adolescente estão aprendendo sobre como viver em sociedade e precisam saber das consequências de seus atos. Isso é uma coisa séria. No momento em que qualquer fantasia mirabolante for a sua promessa, você estará afastando o educando da realidade, da consciência crítica, da capacidade de decidir.
18 DICAS PARA CONDUZIR UMA AULA MANTENDO A DISCIPLINA
Há muitos detalhes que nós esquecemos com o passar do tempo e o dia a dia de uma aula após a outra. Essas pequenas faltas vão deixando os alunos desnorteados e sem clareza quanto às regras e até sobre o seu real propósito como professor.
Vamos voltar ao básico de nossas práticas e relembrar alguns preceitos básicos sobre postura e comportamento em sala de aula.
1. Antes de começar, observe sua sala — mapeamento/espelho, organização e limpeza
Há algumas turmas em que as fileiras estão tão próximas umas das outras que eu fico com calor só de olhar. Impossível esperar silêncio dessa forma.
Além disso, não há espaço para o professor transitar entre as classes para poder ajudar os alunos nas suas individualidades.
Então, primeira coisa ao entrar na sala de aula: organizar a bagunça! Exigir que os alunos sentem-se nos seus lugares, conforme estabelecido no espelho de classe ou mapeamento, e organizar as classes, inclusive o que há em cima delas.
Alguns alunos têm dificuldade de organização e isso interfere na sua aprendizagem — são aqueles que deixam caderno, livro, estojo, lápis e canetas esparramados sobre a mesa, que apoiam cadernos sobre os lápis para escrever (!), ou têm garrafas de água destampadas prontas para virar e molhar seu material.
Parece uma coisa básica, tão simples, mas nossos alunos precisam do nosso auxílio.
A mesma orientação vale para a limpeza do ambiente: peça que ajuntem do chão os papéis maiores, plásticos e saquinhos que possam ter ficado do lanche ou de alguma atividade que exigiu mais nesse sentido.
Além de tudo, com esse costume estaremos contribuindo para que nossos alunos não sejam pessoas que jogam embalagens fora pela janela do carro.
2. Inicie a aula sem demora
Tenha seus objetivos claros e trabalhe para conquistá-los. Portanto, comece aula sem rodeios, sem conversas que não sejam relacionadas ao objetivo estipulado.
Lembre-se, como já foi mencionado, que os alunos têm 1 minuto e meio de concentração por ano de vida. Não desperdice.
3. Seja breve e objetivo nas explicações
Não perca tempo falando muito. Explique de maneira clara e objetiva o que os alunos devem fazer e faça-os produzir!
4. Olhe para todos os alunos
A afetividade é algo intrínseco ao sujeito, sendo principalmente importante na idade escolar.
Alunos que não gostam de um professor geralmente não gostam também da sua matéria e apresentam baixo rendimento.
Olhe para seus alunos durante as explicações, não apenas para os 5 ou 6 que “têm vontade de estudar”.
Às vezes, chamar aquele que está desatento pelo nome e perguntar se está compreendendo o traz para o universo do conhecimento que estamos levando para a sala de aula.
Quando o professor demonstra seu interesse no desenvolvimento dos alunos, estes deixam a postura de meros ouvintes e tornam-se parte do processo de aprendizagem, desejando compreender de fato e fazendo perguntas que comprovam que estão prestando atenção.
5. Faça perguntas e ouça as respostas
O que move o mundo não são as respostas, mas sim as perguntas.
Então pergunte! Faça seus alunos pensarem, não dê respostas prontas, faça com que pesquisem e desenvolvam habilidades. Faça o que Celso Antunes chama de ginástica para o cérebro.
6. Socialize as dúvidas
Quando um aluno o questiona, socialize. Às vezes a dúvida de um pode ser a dúvida de todos.
Não deixe que sua aula se transforme num diálogo de duas pessoas, enquanto, nesse meio tempo, os outros alunos, sem nada para fazer, se dispersem com outros assuntos.
Outra coisa bem importante: respeite as dúvidas, evitando frases do tipo “me perguntando isso de novo?” ou “quantas vezes já falei isso?” e faça com que seus colegas também a respeitem.
Não existe pergunta boba.
Existem dúvidas que dificultam a aprendizagem e, dependendo da individualidade do aluno, as mesmas dúvidas irão surgir antes ou mais tarde.
7. Evite virar de costas para escrever no quadro
Cuidado com essa prática! Dependendo da turma essa pode ser uma péssima ideia, pois é um momento que alguns alunos podem se aproveitar, já que não estão sendo vistos totalmente e em todo momento pelo professor.
Mesmo assim, já tive turmas em que escrever no quadro era uma boa forma de manter a disciplina.
Vale ressaltar que não existem fórmulas prontas para uma aula proveitosa, mas sim a experimentação de diferentes metodologias nas diferentes turmas.
8. Caminhe pela sala, evitando que os alunos levantem
Professor que caminha pela sala ajuda a manter o aluno sentado.
Professor que senta incentiva o aluno a levantar-se quando este precisa do seu auxílio. Qual atitude parece mais inteligente?
Além da questão disciplinar, há outro motivo para você escolher a primeira opção: ao atender os alunos de carteira em carteira, você pode observar a organização dos cadernos, se o que foi solicitado está sendo feito, ajudar na organização daquele que tem essa dificuldade e talvez o mais importante: olhar para cada um e oferecer uma atenção especial, fortalecendo a relação professor x aluno.
9. Explique as atividades com clareza
É comum que alunos esqueçam de algum material para a aula. Ainda que isso seja um problema em muitos casos, sempre me preocupo em garantir que todos possam realizar as atividades para poderem passar por aquela experiência.
Seguindo essa postura, certa vez, no calor da atividade, vi o aluno envolvido, comprometido e… feliz.
Não é isso que todos os pais desejam para seus filhos? Ele estava feliz! Feliz pois experimentou a atividade e sentiu-se bem por realizá-la.
Então, professor, explique a tarefa com clareza, ensine como fazer, pois o aluno, quando alcança o objetivo proposto, sente prazer. Tenha certeza de que ninguém se sente satisfeito em ir para a escola e voltar para casa sem ter aprendido algo novo.
10. Valorize o aluno na sua individualidade – conheça-o e respeite-o
Se olharmos para trás, para a nossa vida escolar, com certeza lembraremos um professor que pisou na bola conosco.
Lembro de certa vez, na terceira série, eu então com 8 anos. A professora pediu que plantássemos um feijão no algodão (quem nunca?). Eu fiquei muito feliz com a proposta, emocionada de fato, e num de meus relatórios escrevi que estava nascendo uma vagem. Para mim foi o que mudou, em todo aquele tempo observando o dito feijão, e eu achei mágico, lembro de ter imaginado a história do João e o pé-de-feijão e outras fantasias infantis.
A professora conseguiu me tocar com a sua proposta!
No entanto, após corrigir os relatórios, na frente de toda turma, a professora disse que “tinha gente que escreveu que já estava aparecendo vagem! Onde já se viu? É um absurdo achar que está crescendo uma vagem!”
Quanta vergonha que eu senti! Ela estava falando de mim perante a turma! O que eu ia saber de plantação de feijão com 8 anos? Quase joguei meu trabalho fora, de raiva.
Analisando a atitude dessa professora, o que faltou? Onde ela pecou? No respeito aos alunos!
- Falar no grande grupo sobre algo que “alguém” escreveu. Ninguém sabe quem é esse alguém, a não ser o próprio autor. Como o aluno se sente?
- Exigir levar em conta aspectos como idade, desenvolvimento, histórico de vida.
A criança não é um adulto em miniatura e não tem obrigação de saber! O professor é que deve conduzir as atividades, respeitando o aluno na sua individualidade.
Quer ouvir uma música que ilustra perfeitamente essa problemática?
Chega de dar sapato 36 para as nossas crianças!
11. Elogie
Imagine o efeito de um elogio ou de uma palavra de incentivo para um aluno que está demonstrando interesse nas aulas, realizando os temas de casa e respeitando o ambiente de estudos.
O reconhecimento por parte do professor de uma atitude colabora com a repetição das atitudes que consideramos positivas. Elogie seu aluno, faça -o sentir-se visto, valorizado. Escreva um bilhete na agenda aos pais, comunicando o bom rendimento do filho.
A agenda escolar não deve ser apenas para notificar maus comportamentos, mas bons também. Faço isso com frequência e garanto que incentivar e elogiar tem efeito mais duradouro e rápido que xingar, dar sermões e chamar os pais.
12. Esteja atento às pistas
Os alunos estão o tempo todo pedindo para ir ao banheiro? Alerta! Será que sua aula não está cansativa ou monótona demais?
É importante diversificar as propostas, intercalar atividades de maneira que não se permaneça muito tempo fazendo a mesma coisa.
Imagine você, na faculdade, uma noite inteira apenas lendo artigos.
13. Mantenha a calma e a serenidade
Por mais que seja difícil, mantenha-se calmo. Os professores devem ser o exemplo e, por isso, quando têm atitudes consideradas extravagantes ou erradas no julgamento dos seus alunos, estes ficam chocados.
É como quando um filho descobre que o pai ou a mãe fazem algo errado.
Lembre-se que a educação se dá pelo exemplo. As atitudes que temos demonstram aos educandos o que eles podem fazer quando forem adultos.
14. Tenha bom humor
Os alunos não têm opção: devem ir para a escola. Podem até optar entre esta e aquela instituição, mas não podem fugir do profissional da educação com quem precisam conviver no mínimo 4 horas por dia.
Seja bem humorado, saiba relevar algumas situações.
Ter um comportamento colérico em sala de aula pode criar ou aumentar um clima de tensão que não contribui com a aprendizagem. Coloque-se no lugar do aluno e imagine ter um palestrante mal humorado e que, às vezes, até é grosseiro ou mal educado.
15. Evite gesticular ou elevar a voz em excesso
Cuidado com o tom de voz. É sempre preferível falar mais baixo, de modo que os alunos tenham que ficar em silêncio para ouvir, do que o professor que fala muito alto.
Claro que deve haver bom senso: falar muito baixo, de maneira que a turma do fundo não consiga ouvir, também pode gerar indisciplina.
Quem nunca terminou um dia de aula praticamente sem voz? Aprenda 10 exercícios para cuidar do seu principal instrumento de trabalho.
A gesticulação exagerada também pode atrapalhar a aula. Uma boa técnica descrita por Celso Antunes em seu livro Na Sala de Aula é a do espelho: treinar em casa olhando-se no espelho e ir corrigindo a postura. Vale também lembrar da frase “você está sendo filmado” enquanto dá aula.
16. Não vincule nota à disciplina
A disciplina é fator importante na educação, não apenas o conhecimento. Portanto, trate a disciplina como tal, sem vincular a nota.
Além disso, essa atitude contribui para uma educação pela nota, não pelo conhecimento ou satisfação pessoal. Educar para atingir a “média” não motiva para ir além do conhecimento da escola.
17. Não incite o medo da prova
A avaliação deve ser encarada pelo aluno como um momento para testar seus conhecimentos e saber qual aspecto dos conteúdos abordados devem ser revistos.
Ele não tem maturidade para compreender o objetivo final da avaliação.
Por isso é que o professor deve ajudá-lo. Muitos, pelo contrário, acabam descontando sua insatisfação com o comportamento dos alunos incitando o medo da avaliação.
Saber que estamos sendo testados nos deixa tensos, aflitos. Então para que estimular esse comportamento? Devemos contribuir é para a formação dos jovens, para que possam lidar com situações adversas.
Esses alunos que têm medo de realizar uma prova poderão reprovar inúmeras vezes na autoescola, por exemplo, devido ao nervosismo ou por falta de autocontrole num momento avaliativo.
Incitar o medo não melhora o comportamento e faz com que o objetivo da avaliação se perca.
18. Seja autoridade e não autoritário
Você sabe a diferença entre o professor autoritário e o professor que é autoridade na sua sala de aula?
UM RETRATO DO PROFESSOR AUTORITÁRIO
Todos conhecemos ou já ouvimos a música Another Brick in the wall, do Pink Floyd. Convido que você assista ao clipe para que possamos refletir a respeito da postura do professor ali representado.
O que observamos sobre a postura do professor no vídeo:
Aos 34 segundos, o menino tem alguns relapsos de memória que dão a entender que o professor o reprime.
Na aula, o professor humilha o aluno, sem reconhecê-lo como sujeito. Além disso, o expõe para a turma, falta com respeito com suas preferências, sua individualidade.
Há flashes de agressão física – de uma época em que era permitida no ambiente escolar.
Inicia a parte mais tocante da crítica presente no vídeo. Vemos o professor disciplinado pelo autoritarismo, numa espécie de indústria que confecciona comportamento: os alunos perdem sua identidade quando são mascarados, deixando de ser quem são para serem iguais, apáticos, sem preferências ou questionamentos a fazer.
A partir dos 3 minutos, aparece um relógio, o que identifica a relação do tempo com o trabalho, fruto da Revolução Industrial. Parece que a escola, como sugerida, tem sua visão de educação como um modelo para não pensar, não contestar, criando assim um operariado urbano, pronto para servir e obedecer.
Aos 3 minutos e 16 segundos, o professor grita “Wrong, Guess again!”, ou seja “Errado, faça de novo!”. É isso que gera o célebre coro:
As crianças se rebelam, iniciam uma revolução, quebram coisas, ateiam fogo. Tudo isso mostra o sentimento, o desejo de mudança, a revolta pelas atitudes que são do professor e do modelo de educação explícito no vídeo. Um desejo de libertar-se da tirania.
O professor autoritário já não tem mais espaço na escola desde a época em que o vídeo foi lançado. A literatura a respeito da educação mudou muito ao longo das últimas décadas, principalmente com a teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner.
CHECKLIST: O QUE SEU PLANO DE AULA PRECISA PARA EVITAR A INDISCIPLINA
Além das técnicas já propostas, uma boa organização do seu plano de aula vai ajudar em muito no combate à indisciplina.
Se você ainda não sabe como fazer um plano de aula, clique aqui e aprenda.
Abaixo você encontra um exemplo de uma aula de História dada por mim e, ao lado, os elementos que você deve atentar para manter seus alunos engajados durante todo o período.
PROGRESSÃO DAS ATIVIDADES NA AULA
Problematização: Introduzi a aula com uma pergunta sobre o Imperialismo. Os alunos deveriam pesquisar e encontrar uma resposta para a minha pergunta. Passado o prazo combinado, debatemos sobre a pergunta.
Introdução ao conteúdo: A partir da pergunta lançada e da resposta dos alunos, retomei o contexto do Imperialismo, causas e consequências. Esse momento não passou de 21 minutos, prazo máximo de atenção para alunos de 14 anos. Lembrando que, ao explicar, deve-se utilizar o quadro com desenhos ou imagens, pois a maioria dos alunos adquire conhecimento de maneira visual.
Debate em equipes sobre partes do conteúdo:A partir da minha revisão, passamos a estudar alguns conflitos imperialistas. Cada equipe recebeu um conflito e deveria fazer anotações no caderno sobre as causas, o desenrolar do conflito e as consequências.
Proposta de elaboração de cartazes para apresentação: Após chegarem a um conceito sobre o tema recebido, a equipe deveria elaborar um cartaz com as principais informações para divulgar aos outros grupos.
Apresentação de cartazes e temas: Uma vez prontos os cartazes, os alunos apresentam o que entenderam, respondendo a possíveis perguntas dos colegas.
Debate: Após a apresentação, a análise dos conflitos, voltamos para a síntese: o que todos esses conflitos representam. A partir do todo fomos estudando as partes e a partir das partes voltamos para o todo.
Elaboração de questões sobre o tema recebido (em equipes): Os alunos, após as apresentações, elaboraram questões sobre o tema recebido. Elaborar questões não é fácil, uma vez que deve ser analisado o que convém ser questionado ou não. Além disso, a clareza das perguntas é fundamental para se chegar a uma resposta.
Redistribuição das equipes para responder as questões: Uma vez que as questões ficaram prontas, organizei uma ficha com as perguntas dos alunos, com o nome da equipe antes das questões – também como forma de valorizar o seu trabalho. Redistribuí os grupos para responder as questões de maneira que um membro de cada equipe anterior pertencesse à nova. Assim, temos, nas novas equipes, um representante de cada equipe antiga. O objetivo dessa nova redistribuição é para socializar as informações. Cada aluno sente-se responsável por um assunto (o da sua apresentação) e, assim, pode explicar novamente para os colegas.
ELEMENTOS IMPORTANTES
Repare que a aula é rica em atividades diversas, mas com foco nos trabalhos em grupo realizados pelos alunos. Já se constatou que as taxas de aprendizagem sobem muito quando atividades de interação estão no centro do processo.
CONCLUINDO UMA AULA NOTA 10
Acima, compartilhei um plano de aula bem sucedido e estruturado. Mas uma ressalva é sempre importante nesse momento: ao utilizar uma dinâmica nova, tenha bem claros os seus objetivos e etapas e, principalmente, convicção na sua proposta.
Muitos tentam usar algo novo em sala de aula e demonstram insegurança — algo que os alunos percebem rapidamente e usam contra o professor, que acaba acreditando que “não vale a pena tentar algo novo”.
No livro Aula Nota 10, do norte-americano Doug Lemov, podemos conhecer 49 técnicas para uma aula nota 10.
Uma delas, que se chama Deixe Claro, cabe exatamente neste espaço do artigo. Lemov sugere que todos os dias, em linguagem bem simples, seja escrito na lousa o objetivo da aula para que os alunos estejam atentos ao que estão procurando.
Assim também podemos analisar se a aula aproximou-se ou não do objetivo proposto.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Na Sala de Aula. 3ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na Escola – Alternativas Teóricas e Práticas. 8ª ed. São Paulo: Summus Editorial, 1996.
LEMOV, Doug. Aula Nota 10: 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência. 4ª ed. São Paulo: Da Boa Prosa, 2011.
VASCONCELLOS, Celso dos. Disciplina: Construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 14ª ed. São Paulo: Libertad, 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.