quarta-feira, 11 de maio de 2016

A educação que eu ACREDITO

Eu ouso  seguir acreditando na educação no seu encantamento e poder, independente da função que eu esteja ocupando e não pensem vocês  que não sei, não vejo, não  leio, não analiso e não  reflito sobre os caminhos que a educação está trilhando...
Hoje é um daqueles dias em que senti não me fazer entender, dia que é indispensável escrever .
Ah, eu sou com orgulho e um pouco de  saudosismo  do tempo  em  que lá na Pitangueira,  tínhamos quatro séries  em uma sala só, não tinha nem merendeira, nem faxineira e o transporte escolar só passava ao meio dia. As  cinco da manhã eu seguia para o trabalho com o leiteiro de uma empresa que me dava carona, parando de casa em casa. Uma distância de vinte minutos de carro (que eu nem tinha) demorava de leiteiro  duas horas e meia. Quando chegava na escola encontrava meninos e meninas   me esperando e esperando também talvez  com mais alegria as atividades a letra grudada, afoitos pelo desejo de aprender. Duas turmas olhavam pro quadro da frente as outras duas pro de trás, nós tínhamos pouco mais de dez anos de diferença de idade e no tamanho alguns passavam longe do meu ombro. Nós fazíamos o que o livro didático ditava, quando tinha em número suficiente, sem acompanhamento pedagógico. Éramos companheiros, naqueles dias todos, estudávamos, cantávamos, riamos juntos   e alguns deles me ajudavam  a fazer a horta e a  lavar depois do lanche  a panela da merenda.
Poderia descrever tantas lembranças doces e tantas agruras e desafios que foram acontecendo ano a  ano nestes vinte e sete de trabalho que farão aniversário no próximo mês  e me  constituindo na pessoa e na professora que sou hoje. Que ama estar em sala de aula e sabe fazer o que faz sem nenhuma falsa modéstia e que quer seguir aprendendo sempre para poder equiparar a busca pelo conhecimento com as  necessidades das crianças do meu tempo.
Eu acordava acreditando na diferença que podia fazer na vida daquelas crianças todo santo dia.  Quando se está em sala temos a grandiosidade de ter o maior percentual de ação em nossas mãos, diferente de quando estamos na gestão, onde precisamos motivar  e fazer com que uma equipe inteira acredite em si, mesmo que as vezes muitos não compreendam todo o empenho e todas as intenções e ações.  Tudo tem seu valor, eu gosto do esforço que a gestão me exige, ainda que em dia destes eu chegue triste. Amanhã é outro dia e eu seguirei acreditando e fazendo tudo o que posso para  amparar, auxiliar, assessorar e melhorar as condições de trabalho das pessoas, que lhes é de direito.
Se era leve? Se está mais pesado? Se mudaram os desafios? Evidente que mudaram, são de outras ordens e naturezas, poderia elencar vários, poderia citar  falta de amor e limites que algumas crianças clamam em salas de aula, poderia descrever o grande número de problemas emocionais, síndromes e pensamentos acelerados. Poderia comparar as crianças que apanhavam dos pais por ganhar uma nota baixa e eu também abominava, poderia fazer uma série imensa de comparações. Mas prefiro afirmar minha crença: é POSSÍVEL e nem tão difícil como alguns tentam me apresentar.
Ser educador é tarefa para fortes e quantas vezes sentimo-nos fracos e impotentes, como me sinto agora... É natural e digno do ser humano sentir-se assim vez ou outra. Sorte que amanhã é outro dia.
Mas há de se refletir e perceber se realmente esta profissão é tão pesada, se todas as possibilidades que existem hoje, se o direito a formação continuada, a hora atividade, a materiais diversos a reflexão e ao planejamento acompanhado de coordenação pedagógica, talvez isso tudo ainda seja pouco para tornar fácil a missão mas se de fato o fardo é realmente impossível de ser carregado, se não há  condição de compreender cada aluno ali na nossa frente  como único e especial e que necessita do nosso  olhar, das nossas mediações e intervenções e que precisa muitas vezes de amor, de credibilidade, de incentivo. Será que de fato os que mais sofrem acreditam? Será que vale a pena dedicar os melhores anos da vida  a uma  profissão que está pesada demais? Será que não é necessário repensar, diminuir os fardos e seguir mais leve?
Será que quando  vejo a grandiosidade  de uma relação diária de duzentos dias, acredito  que é possível  estabelecer laços de respeito, afinidade e aprendizado? Será que não seria necessário acreditar mais no que fazemos, nos unirmos, nos fortalecermos, observar as possibilidades e parar de focar no que é negativo e no que não funciona. O negativo não é o que há de maior na escola. NÃO É.
Será que meu otimismo é tão grande  e enfadonho que eu não consigo  entender que o fardo não é tão pesado assim,  talvez porque nos desafios  que eu encontrei, com as crianças  e os alunos todos que já passaram pelas minhas salas e pela minha vida eu sempre aproveitei o aprendizado, eu sempre acordei esperançosa eu sempre recomecei cada dia acreditando no meu trabalho e nas minhas crianças. Queria tanto  colaborar para que mais pessoas pensassem assim, se sentissem assim.
Cada  um vê o mundo de onde põe o pé. O que na minha concepção não vale é colocar o pé e depois esquecer completamente alguns aprendizados.  Os meus já tiveram  a possibilidade de passar por muitos caminhos, de observar práticas, de estabelecer comparações eu sei que tive oportunidades, que o extratos se expressa em minhas palavras e que ainda não podem ser entendidos por alguns... Eu sei que tenho tanto para aprender  e eu quero e eu vou!
 Ah, eu sou  daquele tempo, eu hoje sou DESTE tempo, onde as crianças brincam, correm, expõe suas ideias sem medos e onde as oportunidades são múltiplas, onde existe um universo inteiro de possibilidades, de literaturas, de objetivos a serem atingidos. Onde tem material, ideias , sugestões e onde tem tempo pago para pensar o processo educativo e estudar. Nestes tempos eu conheço algumas da  teorias que transpostas para  a prática fazem maravilhas e eu sei que existem tantas outras que eu quero muito conhecer. Tenho certeza que o meu ofício depende de estudo, muito estudo. Eu sei também que a educação emocional precisa fazer parte de todo  o planejamento. Eu necessito planejar porque acredito nesta ferramenta e ela me é indispensável.
Eu teimo em acreditar, em achar bonito, em achar emocionante e saber que os desafios levam ao aprendizado, que cada um aprende a sua forma, que a avaliação também precisa ser pensada assim, que é necessário conhecer cada um  e desafiar o melhor que podem fazer e aprender. Eu teimo em dizer que tem jeito, que na escola os alunos são nossos, que muitos nos desafiam mas que todos precisam de nós  como adultos mediadores que estudaram  se prepararam e recebem salário para proporcionar aprendizagem.  É eu também acredito que me faço professora quando meus alunos aprendem, não todos  iguais e da mesma  forma, mas todos diante de si mesmos e  crescem, avançam da forma que os recebi.
Nada faz mais diferença na vida de um aluno ou de um profissional de um ser humano do que você acreditar nele e quiçá  poder encaminhar para casa uma “florzinha” como reforço positivo e como comunicação com a família, o sinal de dizer a esta criança:
- Parabéns! Você  é capaz, nós vamos conseguir construir conhecimento, laços de respeito , amizade  e companheirismo.

Nós  podemos fazer diferença. A educação é o único caminho de muitas crianças.
Eu acredito no trabalho da maioria de nossas professoras e gostaria imensamente que elas também acreditassem.

Eu acredito!

Um comentário:

  1. Exatamente Catia! Penso bem assim também. Recentemente num dia de curso, ouvi uma Neuropsicóloga perguntar: as crianças de hoje são mais inteligentes do que as da idade média? Resposta da neurociência: Não! Elas tem mais oportunidades de se expressar e liberdade de ir e vir. Evidente que que há diferenças culturais e tantas outras, mas todos somos frutos dessas diferenças. Já ouvi de minha professora de magistério: é chegada a hora de nós professores, pararmos de nos fazermos de "coitados". Não entendi bem na época, mas agora entendi que é preciso estabelecer, quando, onde e como resolveremos nossas "coitadices", que são inúmeras e que dependem da região onde você está, do quanto você ganha e de quanto seus direitos são respeitados. Assim, a sala de aula independente de nossos desaborres, deve ser o lugar da alegria, do prazer, do conhecimento, da amizade, da união e da beleza do construir conhecimento. O espaço onde os aborrecimentos e preocupações dos adultos não estejam em desfavor de nossas crianças e adolescentes.
    Não importa o tempo em que estamos vivendo, brilho no olhar, busca por conhecimento, criatividade, fé no ser humano e amor pelo que se faz continuarão a ser as principais ferramentas para a nossa grande tarefa de ensinar. E repeito "ensinar" essa é nossa responsabilidade, independente do tempo em que estamos vivendo.
    Eu acredito! E tenho muitas saudades! Que 2017 me aguarde com tudo que há de bom pra construir!

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Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.

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