Na maior feira de tecnologia de Educação do planeta, NOVA ESCOLA conferiu um mundo de recursos novos. Mas as novidades da informática estariam roubando o precioso tempo de contato entre aluno e professor? Leia o artigo e opine!
Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)
Todos os anos, professores, gestores e entusiastas da tecnologia em Educação voltam seus olhos para os lançamentos da Bett Show. Realizado num enorme centro de eventos em Londres, na Grã-Bretanha, o evento é uma das maiores feiras mundiais sobre o tema. Estive por lá entre os dias 11 e 14 de janeiro, acompanhando as últimas novidades da tecnologia em sala de aula.
Não há como não voltar deslumbrada com todos os aplicativos, softwares e hardwares desenvolvidos com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Jogos em todas as disciplinas fazem a festa das crianças - e também dos professores que acham que esse é o caminho para "motivar" os alunos. Imagens em 3D revelam o corpo humano e dos animais e a estrutura dos demais seres vivos e levam as turmas para um estudo de campo de ecossistemas como o fundo do mar e uma caverna - tudo sem sair da sala de aula.
Mas um ponto polêmico - não colocado abertamente durante as discussões na Bett2012, mas deixado no ar - diz respeito ao fator interação quando a tecnologia invade a sala de aula.
Alguns professores têm usado a tecnologia para se aproximar das turmas, como Emma Chandler, professora de Estudos Sociais da Emerson Park School, em Londres. Ela usa o Twitter para se comunicar com os alunos justamente por ter percebido que era a ferramenta predileta de comunicação entre eles. Manda de três a quatro mensagens por aula, com o plano de aula do dia, questões simples para verificar o conhecimento sobre determinado conteúdo e notícias relacionadas ao tema. "Os mais tímidos passaram a se comunicar mais comigo", afirmou ela, que ainda coordenou um texto coletivo para o jornal da escola cujos trechos eram enviados pela rede social. O trabalho em grupo, portanto, foi intermediado pela ferramenta, com pouco contato direto entre os colegas.
O uso de animações em 3D, em que todas as informações são facilmente acessadas e visualizadas com perfeição e realismo, praticamente prescinde da presença do educador para a compreensão do conteúdo. Estudo realizado em sete países entre outubro de 2010 e maio de 2011, por pesquisadores da Universidade de Londres, comparou o rendimento de duas categorias de estudantes. Os que estavam nas turmas em que o professor usou 3D para ensinar corpo humano melhoraram suas notas em 86% (contra os 52% registrados no grupo de controle, que só usou ferramentas em 2D), apreenderam as informações em menos tempo, lembravam de mais detalhes e davam respostas mais elaboradas em questões abertas. E o papel do professor, nesse caso, foi apenas disponibilizar o acesso à ferramenta e fazer a avaliação.
Steve Bunce, consultor em tecnologia da Educação do Reino Unido, está convicto de que a saída para esse dilema é o educador se tornar um questionador: "Em vez de explicar o conteúdo, ele vai criar as perguntas sobre o mundo real e os problemas globais para serem respondidas pelos alunos, que, por sua vez, com a tecnologia, podem ir sozinhos atrás das informações e trazer as soluções. É assim que se educa cidadãos com autonomia para aprender."
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