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Pesquisadores garantem que faltam ações práticas nos cursos que formam professores para o ensino básico, mas não é só isso que deve ser mudado
Junte uma dose caprichada de paciência com muitas colheres de dedicação. Adicione uma xícara cheia de vontade de transformar a vida das pessoas, acrescente várias horas de estudos, e mais alguns livros com as teorias educacionais de Piaget, Freire, Vygotsky, Wallon, entre outros.
Receita de como fazer um bom professor? Sim! Muito embora essa seja uma tarefa difícil de acertar. Só faltou aí a prática, ausência sentida não só na receita da fantasia, mas também nas instituições responsáveis pela formação inicial dos professores.
O que seria, então, necessário para se formar um bom professor? Sim, é indispensável ter conhecimento teórico sobre os grandes pensadores da Educação. Mas não é só isso!
O professor precisa estar inteirado também da realidade da sala de aula. Esta foi a conclusão apresentada por pesquisadores durante o Congresso Internacional Educação: Uma Agenda Urgente, realizado em Brasília no mês de setembro.
Entre os especialistas citados está Gisela Wajskop, doutora em Metodologia de Ensino e Educação Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora acadêmica do Instituto Singularidades.
Gisela argumenta que os programas de estágio propostos hoje pelos cursos de formação de professores não são suficientes. “Eles ocorrem no final do curso. Para fazer direito, essa é a parte mais específica, trabalhosa e cara da formação”, considera. Ela explica que, ao concluir a faculdade, se o estudante ainda não sabe lecionar, será difícil aprender só por observação. Para ela, essa não é a melhor opção porque as experiências práticas brasileiras, com raras exceções, são muito ruins.
A especialista afirma que, para funcionarem, as aulas de estágio deveriam ser obrigatórias desde o primeiro semestre dos cursos de formação, com uma sequência que vai da observação, passa pela análise das práticas, até chegar a uma prática de pré-exercício. Dessa forma, o estágio proporcionaria uma entrada gradativa e tutelada no espaço escolar. Para quem questiona o porquê de tanta preocupação, Gisela responde. “As questões associadas ao professor novato têm sido bastante estudadas e demonstram que eles se sentem muito sozinhos. Muitos abandonam a profissão por não saberem o que fazer frente a conflitos entre alunos ou a alguma pergunta relativa ao conteúdo das aulas”, relata.
Modelo às avessas
A conclusão, então, é de que quem precisa de uma revisão são os cursos de formação de professores. Gisela defende ser necessário rever o próprio lócus da Pedagogia e das licenciaturas como lugar de formação. “Temos que repensar os currículos, associando aos cursos de formação um ensino mais prático, no qual os estudos sejam visceralmente vinculados às redes de ensino e à sala de aula”.
Doutoranda em Ciências Sociais na USP e coordenadora geral executiva da Associação Parceiros da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro concorda com a necessidade de se repensar os cursos. “Embora a formação continuada seja indispensável, ela não substitui uma boa base oferecida na formação inicial”, considera ela. A coordenadora lembra que os melhores sistemas de Educação do mundo são de países com duas características específicas. A primeira está relacionada a um processo de seleção rigoroso adotado pelas faculdades que formam professores. E na segunda, os futuros educadores estudam a parte teórica, mas também componentes sólidos de prática aplicada.
Os países que ela cita como exemplos são o Canadá, a Finlândia e a Coreia do Sul. Já no Brasil, na sua avaliação, esse trabalho está aquém do desejado. “A grande maioria das faculdades públicas e particulares não desenvolve bons programas de formação inicial”, critica a pesquisadora. Maria Helena conta que, por aqui, essa formação é basicamente teórica, não tem didática aplicada à sala de aula e não tem praticamente nada do conteúdo necessário para que os professores possam trabalhar com seus alunos. “Já sabemos que a formação inicial brasileira não funciona. Ela tem que passar por uma enorme transformação; precisa ser mais integrada às escolas públicas”.
Experiência
Maria Helena afirma que os professores saem das faculdades despreparados porque não há, no Brasil, uma residência pedagógica. “Em muitos países, os professores ficam pelo menos um ano como residentes, dentro da escola, antes de serem certificados”, destaca.
O melhor exemplo, para ela, é a Finlândia. “Lá eles ficam três anos em residência e depois são submetidos a exame de certificação, que verifica se eles têm perfil e condições de assumir uma sala de aula”. É esse estágio probatório, que não existe no Brasil, que compromete ainda mais o trabalho do professor. “Aqui o professor que fez faculdade vai para a sala de aula independente de ter perfil para isso”. Mas tudo é culpa só do professor? De acordo com Maria Helena, algumas pesquisas indicam que, isoladamente, o fator interno à escola que mais impacta no aprendizado do aluno é a qualidade do professor.
Contudo, há que se considerar também o pouco tempo que a criança fica na escola, o fato de os profissionais menos experientes atuarem nos anos iniciais e também uma falha geral relacionada às políticas públicas voltadas para a Educação.
Para tudo há uma explicação
Pró-reitora de graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sandramara Matias Chaves é categórica em dizer que não se pode culpabilizar o professor pela má qualidade do ensino nem a formação superior desse profissional. Ela acredita, inclusive, que a grande maioria dos professores saia das universidades preparada para lecionar. Principalmente, tratando-se dos alunos da UFG. Sandramara diz não ter dúvidas de que a instituição propicie uma formação de extrema qualidade aos futuros professores.
O problema, segundo ela, está no contexto no qual os estudantes estão inseridos. “Existe toda uma formação que se dá durante a vida da pessoa e um contexto socioeconômico que interferem na formação superior”, explica. Ela afirma que, normalmente, quem busca os cursos de formação de professores nas universidades são pessoas que receberam a escolaridade básica na rede pública, onde a qualidade do ensino deixa a desejar. E isso influencia no curso superior. Assim como Maria Helena, Sandramara acredita que é preciso rever as políticas públicas voltadas para a Educação e para os educadores de forma que a profissão se torne mais atrativa e valorizada. “Assim como eles se interessam por outras profissões que têm mais perspectiva no mercado de trabalho”, completa.
Autor: Tribuna do Planalto
fonte: http://undime.org.br/a-teoria-e-boa-mas-a-pratica/
"Estou semeando as sementes da minha mais alta esperança. Não Busco discípulos para comunicar saberes. Busco discípulos, para neles plantar MINHAS ESPERANÇAS" Rubem Alves
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