Revista Gestão Universitária, Edição 268
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul - IFMS “Ninguém é professor sozinho, isolado” (NÓVOA,2003).
Claudio Zarate Sanavria
É comum se ouvir em uma roda de professores questionamentos e reclamações acerca da profissão, suas agruras, desafios e condições, principalmente na escola pública. Independente das categorias de ensino – particular ou público – o que se percebe é que o professor passa atualmente por uma crise de identidade. Pode-se dizer que esta não é uma questão atual, porém ainda é contundente e desafiadora. Historicamente a docência sofreu mudanças, juntamente com toda a sociedade. É importante salientar que o professor é fruto dessa sociedade, como afirma Pinto (1984), defendendo que quem educa o educador é a sociedade. A partir dessa afirmação, é fácil deduzir que toda a evolução da sociedade implica em mudanças substanciais no papel do professor. Sua prática, segundo Bello (2000), reflete a cultura e o contexto social do professor e é influenciada pelo modo como ele pensa e age. O professor se vê num momento em que sua profissão passa por profundas alterações, diante de uma escola voltada para o caráter empresarial, cujo objetivo primordial é a formação para o trabalho, numa sociedade hoje denominada sociedade da informação, direcionando o professor a uma certa obsolescência no que tange a exclusividade da palavra como recurso, como aponta Cunha (1999). Entretanto, seria o domínio tecnológico o único meio do professor se profissionalizar?
Não se pretende aqui transformar a evolução das tecnologias da informação no grande vilão da história. Porém, o tratamento que se deu a mesma, em parte, diminuiu a importância da escola para os olhos da sociedade, que não consegue identificar o caráter de formação para a cidadania dentro do papel da escola e alimenta expectativas sobre o trabalho do professor que o levam a uma situação de extrema tensão. Como mencionado por Fiorentini (2001), do professor é esperada uma postura de animador, pedagogo, psicólogo, com atribuições que vão muito além do ensino.
A escola não evoluiu no mesmo ritmo que a sociedade. O ensino ainda está muito distante das necessidades reais do indivíduo. O professor se vê numa situação onde é responsabilizado pelo fracasso escolar, porém não tem autonomia para desenvolver o seu trabalho. Sequer pode opinar sobre o conteúdo que ministra. Como Cunha (1999) afirma, existe uma separação entre quem decide e quem executa, o que também é observado por Giroux (1997) ao apontar a existência de uma abordagem tecnocrata para a preparação dos professores, onde os mesmos aprendem apenas metodologias que negam a necessidade de um pensamento crítico. É a chamada proletarização do trabalho docente. Bello (2000) defende que a falta de autonomia sobre o currículo é fruto das implicações sociais e históricas e Fiorentini (2001) chama de controle externo os mecanismos que predeterminam as orientações do trabalho do professor. A estas afirmações soma-se o fato de que, dentro da perspectiva neoliberal, o controle a alienação são prioridades para o Estado. Um dos questionamentos consiste em identificar até que ponto o professor têm consciência do seu papel. E se a tem, como se adaptar ao contexto no qual está inserido.
Nóvoa (2003) afirma que “ser professor é o mais impossível e o mais necessário de todos os ofícios”. Neste aspecto pode-se dizer que o professor existe. Porém essa existência implica num esforço diário de reflexão e de partilha. O professor, segundo o autor, deve ultrapassar as barreiras do individualismo, também apontado por Cunha (1999) ao dizer que a intensificação do trabalho constitui um fator de isolamento, tirando o docente do convívio coletivo e gerando a falsa ideia de que a autonomia significa um isolamento individual. A chamada tradição escolar muitas vezes tolhe o professor naquilo que possui de inovador em sua prática. Fatores como as diversas tensões apresentadas por Fiorentini (2001) contribuem em muitos casos para uma situação de acomodação, onde o professor assume uma postura de neutralidade no processo de ensino. Neutralidade que, segundo Giroux (1997), não cabe à escola e muito menos à postura do professor. Ao assumir a postura de ser neutro, o professor apenas assiste.
Fiorentini (2001) destaca que, “mesmo sob tensões permanentes, os professores lutam para o desenvolvimento de um trabalho digno e pela conquista de dignidade profissional”. Neste aspecto, o professor persiste. É a partir daí que se dá o desenvolvimento profissional do docente. No momento em que o professor assume uma postura de intelectual, capaz de não apenas executar planos, mas de opinar e transformar aquilo que ele transmite aos seus alunos. Não é fácil levar o professor a construir sua identidade. A história mostra que muitas vezes o eu trabalho passou por mudanças severas. De uma visão religiosa a uma perspectiva operária, seu prestígio social passou por altos e baixos. O título deste texto busca suscitar a curiosidade sobre a postura atual do professor. Na realidade o professor deve existir, persistir e assistir. Porém este último não no sentido de contemplar o ensino como expectador, mas no de contribuir no processo de desenvolvimento social do meio ao qual está inserido.
E você? No que acredita?
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