Revista Gestão Universitária, Edição 265
Robspierre Miconi Costa
Já há algum tempo, estava relutante em escrever um novo artigo, seja por meu público não ultrapassar talvez a marca de seis leitores que um companheiro articulista constantemente faz questão de destacar em seus trabalhos, excelentes, diga-se de passagem, seja por um desânimo, descrença, enfim, algo que é incompatível com qualquer tipo de profissão, principalmente com a de Professor, que se não houver uma plena crença na humanidade, no despertar do desejo de saber e da decisão de aprender, retirará do profissional o ‘brilho nos olhos’ destacado recentemente em uma propaganda global sobre a figura do Professor.
E este brilho, este quê a mais, é que faz toda a diferença meus Amigos! Constantemente vemos comentários acerca da carreira de Professor que é de sacrifício (seja pelo comprometimento da saúde física e/ou mental pela pressão constante da profissão, seja pela própria integridade física, ameaçada diuturnamente pelas mais diversas formas de violência), e ainda de abnegação (pois o Docente constantemente abre mão dos próprios interesses pessoais e financeiros a fim de cumprir seu mister, ah! Principalmente destes últimos...). Tais fatos nos levam crer que realmente o Professor é um ser nobre (apesar de pobre em valorização e recursos financeiros, ou um seria conseqüência do outro?), esta bela adjetivação, foi igualmente registrada no depoimento de outra celebridade na já mencionada propaganda global, pena que tão distante da triste e árida realidade vivida pelo Professor Brasileiro, seja em que nível for, pois tal como a crise, o infortúnio que se abate sobre toda a categoria dos Docentes hoje é também bastante democrático!
Tudo isto me levou inicialmente a um sentimento de orgulho! Puxa Vida! Pertenço a esta categoria valorizada e bem vista (socialmente falando), mas depois, confesso que tais desventuras começaram a digamos, me incomodar (para não me valer de uma expressão mais contundente) e então, surgindo um problema de disciplina escolar em minha própria família, para o qual não vislumbrei perspectivas de solução (ou seja, desisti da situação!), foi o mesmo abraçado plenamente por uma Professora que se mostrou disposta a lutar para não ver desperdiçado um talento brilhante, e que se não for bem trabalhado agora certamente se perderá.
Então em minhas reflexões cheguei a seguinte conclusão: Eu não sou Professor! Talvez um falador como todo Advogado deve ser, mas Professor não! E se eu, o parente do Aluno ‘problema’, um Professor Universitário desisti do caso é porque eu não mereço fazer parte desta honrosa categoria profissional! Tenho uma boa lexis como diriam os Gregos, e ainda o respeito de meus Colegas e Alunos, mas eu não sou aquele ‘ser nobre’ a quem se refere a dita propaganda, que deve ser capaz de prosseguir onde os seres humanos comuns param! Cansei e me desiludi com tudo meus Amigos, confesso!
O covarde assassinato de nosso Colega Kássio Vinicius Castro Gomes em dezembro de 2010 na Capital Mineira, esfaqueado nos corredores de uma instituição de ensino superior, a ‘cadeirada’ recebida pela Professora de Matemática do ensino médio Sandra Bontempo, agora no mês de março na região de Marília/SP, e a mercantilização cada vez maior da educação foram golpes fatais em minha boa vontade e amor por esta profissão, sobre a qual Freud ao prefaciar em 1925 a obra de August Aichhorn, assim se manifestou: “... educar, assim como governar e tratar, é impossível!...” Neste momento percebi: opa! Se eu tenho só boa vontade e Amor pela Profissão de Professor, isto não é o bastante! E se todas estas ‘coisinhas’ que citei supra, para não falar de várias outras, estão-me ‘incomodando’, e se eu começo a desistir até mesmo dos meus, definitivamente eu não sou Professor! Eu Amo o que Faço, sinceramente! Porém, talvez seja um desejo inconsciente de tentar me redimir perante a sociedade, pois como também já confessei anteriormente: sou Advogado! e que me desculpem meus Caros Colegas Advogados, mas hoje o Profissional do Direito é a cada dia que passa, visto com mais desconfiança pela Sociedade, isto em razão de uma banalização da Profissão, que apesar de não ser um privilégio do Direito, com ele pode atingir proporções épicas se algum insano realmente conseguir retirar da lei a exigência de passar no exame da OAB para Advogar. Assim meus Caros quase Colegas Professores, estou tentando me despedir da graduação, já reduzi minhas disciplinas abaixo da metade das que lecionei no semestre passado, confesso que não sei se conseguirei me despedir totalmente, afinal isto é uma ‘cachaça’, conforme nós Mineiros costumamos nos referir a alguma coisa muito boa e que não conseguimos largar, ademais, meu falatório vem recheado de prática em uma área bastante árida, onde poucos profissionais disponíveis se habilitam a ser Professores, e assim, penso que poderei colaborar, ainda que um pouco só, com meus Alunos, e quem sabe também em uma formação complementar em nível de pós-graduação, mas não sei ainda, tenho muito em que pensar.
São muitas dúvidas e uma certeza: Eu não sou um Professor! Sou um quase Professor, e sabe por que tenho tanta certeza disto? É que vi nos olhos daquela professora que não desistirá de meu filho, um brilho, uma convicção de que ela conseguirá encaminhá-lo bem, pois ela é Professora, ou melhor, ela nasceu professora, e que me perdoem os teóricos da Educação, pois isto é algo especial que somente com preparação, boa vontade e amor não se pode desenvolver, pois não existe nada que nos pode preparar para isto, e para vencer todos os desafios da profissão, para suportar um ritmo de trabalho doentio que nos afasta da família e da vida social, e ainda de um tratamento e pagamento indignos, e tudo sem cair no lugar comum, e conseguir ir além, até o ponto de ver no fundo do ser humano suas virtudes e capacidades e fazê-las florescer. Não tenho a pretensão de conseguir desenvolver um trabalho maravilhoso como este que acabei de citar, desenvolvido diuturnamente por milhares de Professoras e Professores, mesmo expostos às mais adversas condições, e sem o qual não haverá futuro para nossa sociedade, mas se com minha insistência e amor eu prosseguir nesta árdua e abençoada Profissão, que pelo menos eu não prejudique meus Alunos, prosseguirei estudando e me aperfeiçoando na expectativa de fazer sempre o meu melhor, mas que eles me perdoem se algum dia eu vier a falhar, ou pior a desistir deste Sagrado Ministério de Fé que é a Docência.
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Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.