A escrita tem o poder de chegar aos
lugares mais longínquos. Pra mim, ela
pode servir de alívio, de registro de repúdio, de expressão de luta e de muitas
coisas mais, dependendo do contexto.
Desejo que este relato chegue aos
políticos, aos gestores, aos professores, não somente aos iniciantes aos quais
dedico também todo o meu respeito, mas este aqui é para os professores de
carreira. Aqueles, que como eu dedicam
oito, dez, quinze, vinte anos de suas vidas a esta nobre profissão, para os
alunos, para as suas famílias, a todas as adversidades, reinvenções e
conquistas que aconteceram nestas últimas três décadas, das quais, posso falar
com propriedade.
Sou Educadora a tempo suficiente para fazer algumas analogias, e no trilhar desta caminhada conheci muitos formatos do FAZER na
educação. Iniciei menina, com quatro séries de ensino fundamental em uma
sala, sem merendeira e sem faxineira
para o apoio nos trabalhos. Naqueles tempos a educação infantil era assistencial,
com uma concepção totalmente diferente da de hoje. O transporte escolar mal havia iniciado,
faltava programas suplementares de material didático, livros, brinquedos, nem
tempo disponível para planejar ou sequer para formação continuada... Sobravam
outras tantas coisas!
A comunidade escolar manifestava um
maior respeito pela minha profissão, no passar dos anos e por múltiplos fatores
que não são objetos de análise aqui, este respeito se perdeu, ou diminuiu
consideravelmente. Percebo através das parcerias de hoje que o envolvimento
família instituição está se fortalecendo e quiçá possa retomar o seu verdadeiro
sentido.
Os anos de gestão contribuíram e muito
para minha formação como pessoa, para aprimorar meu senso de justiça, para o
valor que eu dedico hoje a educação. Eu conheço, convivi e convivo com pessoas abnegadas
e verdadeiramente dignas da magnitude do cargo que ocupamos, em detrimento de
outras que eu torcia para procurarem outro trabalho aos quais tivessem perfil e
que lhes desse prazer e felicidade.
Este breve relato da minha história,
ilustra e se assemelha a de muitos dos
meus colegas de ofício. Por sorte, os anos não me roubaram os
princípios, os valores que acredito e nem o imenso amor pela minha profissão,
que sei ser a missão que vim desempenhar neste mundo.
Sim, o campo da educação é como o de
toda e qualquer profissão um lugar que tem pessoas admiráveis que cumprem o seu
papel, conhecem e executam direitos e deveres, garantem direitos de aprendizagem
e também de profissionais que não são assim.
Não quero entrar no mérito da comparação da
educação ser melhor ou pior, mais fácil ou mais difícil, são
tempos diversos, muito diversos, cada qual com suas potencialidades e mazelas.
E para aqueles comentaristas de
plantão, que sequer entraram um dia em uma sala de aula e se acham na condição
de dizer que a educação não mudou, que
não houveram avanços, que não houveram conquistas, tem aqui uma pessoa que
contesta e fundamenta veementemente esta ideia. Muitas ou todas as conquistas
no campo educacional foram fruto de lutas que se concretizam na
contemporaneidade.
Temos uma vasta legislação
educacional, muito bem escrita, diga-se. Recentemente a Base Nacional
Curricular, aliada a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, os indicadores de qualidade as resoluções e pareceres dos
Conselhos a participação social na educação. Tudo representou caminhada e
conquista, ainda que transpor para a prática seja o maior dos desafios.
Um passado bem próximo trouxe
conquistas emblemáticas, como a elaboração do plano de Carreira, o incentivo a
formação continuada, o despertar do gosto dos profissionais em buscarem o constante aprendizado, o piso
salarial do magistério.
Em 16 DE JULHO
DE 2008 foi regulamentado a Lei, para instituir o piso salarial profissional
nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Nestes
treze anos já trouxe ao palco muito debate, dúbias interpretações e também já deflagrou reais intenções de gestores, concepções de gestão baseadas em obras e no processo pedagógico. Tem perpassado
sempre em palanques políticos como discursos efusivos
de valorização.
Quando se valoriza um
profissional? Como?
Apenas financeiramente? As respostas
divergem, certamente.
Neste caso eu falo de salário
e a minha fala vem hoje do chão da sala,
mas poderia vir da gestão, lá sempre travei as melhores lutas, não consigo me calar diante da condução do
pagamento dos profissionais de educação.
O valor do reajuste anunciado pelo governo Federal nesta
quinta-feira (27/01) através do Presidente da República foi de 33,24% , o piso para 2022 será de R$ 3.845,63 para cargas horárias de 40h semanais. O maior aumento desde sua implantação.
É expressivo e até exagerado talvez, mas resultou do cálculo com base no
crescimento percentual dos valores mínimos do FUNDEB de dois anos anteriores.
A que se determina que seja pago para os
iniciantes da carreira ou para os não atingem o valor do base, segundo a Lei.
Neste rumo, muito em breve
iniciantes da carreira e professores
com uma década de trabalho terão o mesmo salário. Eu não posso
considerar isso correto. Pagar por pagar? Só dinheiro garante uma educação de
qualidade? Evidente que não! É necessária avaliação funcional bem-feita e com critérios, produtividade exigida, mas
também VALORIZAÇÃO a todos os que merecem!
O que significa valorizar na
carreira? Volto a grifar, é Lei e justo que os professores iniciantes na
carreira recebam o piso, diante do trabalho que desempenham, para muitos, o
valor ainda é pouco.
Sei do impacto financeiro nos
percentuais de folha. Lutamos a muito tempo para desvencilhar a folha da
Educação do restante dos funcionários da administração pública, para a
composição de índices. Esta bandeira
precisa ser verdadeiramente levantada. Me surge como uma das únicas saídas possíveis.
Mas e os que já estão na caminhada? Tudo que já
fizeram, passaram e conquistaram? É
justo não terem o valor aplicado na carreira, parte dele, pelo menos?
Precisa-se abrir espaço para negociação, para conversa, para valorização financeira
de fato!
A luta
professores deste meu BRASIL varonil, não é somente pelo piso salarial, é muito maior e mais intensa
para que os PLANOS DE CARREIRA não
sejam “rasgados” e para que conquistas históricas não se percam nesta imensidão
de falácias. A luta, é para que a nossa história e tudo que caminhamos para
chegar até aqui, seja respeitada! Que os gestores possam refletir, ponderar, agir em favor da Educação e lembrar em última instância, que
voltarão ao chão da sala de aula um dia, quase todo mundo volta!
Esperançosa que sou, eu sigo lutando
pela nossa classe.