quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Catador de Pensamentos- Monica Feth

Algumas delícias... para dar água na boca:



               "  Todas as manhãs, exatamente às seis e meia, o Sr. Rabuja passa pela casa onde moro. Ele anda arrastando os pés e de longe ouço o barulho de seus passos pela calçada. Na verdade,  nessa hora meu bairro é muito sossegado.  Antes das oito quase não há movimento. De vez em quando um gato atravessa a rua correndo e desaparece sem fazer barulho no jardinzinho tranquilo de alguma casa. Outras vezes, o vento traz até mim o ruído distante da autoestrada. Fora isso, não acontece mais nada."


               "  O Sr. Rabuja é catador de pensamentos. Pensamentos bonitos e feios, alegres e tristes. Pensamentos inteligentes e bobos, barulhentos e silenciosos, compridos e curtos. No fundo, todos são importantes para ele, mesmo tendo, é claro, os seus preferidos. Mas isso ele não demonstra, para não ferir os outros pensamentos, pois todo mundo sabe que pensamentos são coisas muito sensíveis."

"  Depois de recolher todos os pensamentos que encontrou pela cidade, ele amarra cuidadosamente a mochila e volta para casa,  com o corpo ainda mais encurvado,  por causa do peso dos pensamentos. Dizem que pensamentos são mais leves que plumas ou flocos de neve, mas nem todos. Alguns pesam mais de um quilo."


          "Na prateleira A, por exemplo, encontramos os pensamentos acanhados, aflitivos, agressivos, amalucados,  amáveis,  arrojados... Na prateleira da letra B encontramos os pensamentos belos, blasfemos, bobos, bonachões, bondosos, brilhantes, burlescos... Na prateleira da letra C temos os pensamentos caóticos, corajosos, criteriosos, curiosos..."





                   "Muitas vezes já lhe pedi que me deixasse acompanhá-lo em sua tarefa diária. 
Nunca consegui.  Ele diz que os pensamentos são muitos tímidos e que se descobrem algum estranho por perto vão correndo se esconder. Por isso, antes de chamá-los, o Sr. Rabuja  tem que esperar  até não haver  ninguém por  perto.  Por  precaução,  ele altera diariamente seu trajeto, e até construiu uma cerca alta em volta do jardim de sua casa. 
Às vezes,  porém,  em certas noites,  ele me fala de seu  trabalho.  Se não  fosse assim, como eu saberia todas as coisas? Ele fica sentado na minha frente,  na sala de minha
casa, girando a xícara de chá nas mãos enrugadas. Enquanto do lado de fora da janela 
tudo está muito escuro, o Sr. Rabuja cruza as pernas e começa a falar em voz baixa."


    "- Todas as cidades têm catadores de pensamentos como eu."


Uma leitura encantadora! Vale a pena ler 



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