sábado, 16 de abril de 2011

Alma de educador



Mariana Branco

Na edição 133 da revista Profissão Mestre, a seção “Destaque e use” apresentou um relato histórico e emocionado de Paulo Freire, que havia sido revelado durante entrevista ao Jornal dos Professores, do Sindicato dos Professores de São Paulo. Lançamos o desafio para que os leitores da Profissão Mestre também contassem as suas histórias de vida como docentes. Os autores das experiências mais marcantes foram premiados com um relógio e um DVD Gerenciamento de Sala de Aula. Essas histórias você confere a seguir. 



Missão de ensinar
Acho que nasci com “alma de educador”. Minha vida sempre foi uma constante aprendizagem. Órfã de pai aos oito anos, não foi fácil alimentar o sonho de crescer e se realizar. Minha mãe, semianalfabeta, foi trabalhar de servente numa escola. Não sei se entrei na escola ou a escola entrou em mim. Só sei que nunca mais me afastei dela. Estudei. Trabalhei. De aluna passei à servente (tal como minha mãe), assistente-administrativa, secretária e quase diretora. Larguei tudo para ser professora. Apaixonei-me. Descobri a importância de acreditar nos sonhos e não sonhar sozinha. Ciências. Biologia. Matemática e até Ensino Religioso. Continuo apaixonada. Já faz quase 25 anos. Hoje, sou professora PDE-2009, com duas pós-graduações, concluindo a terceira. Continuo estudando e apaixonada pela missão de ensinar. Afinal, aprender a aprender nos torna a cada dia um aprendiz do futuro.
Iracilda dos Santos Araújo, professora de Ciências/Biologia do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – E.F.M., de Cidade Gaúcha (PR).

Superando receios
A minha vida como educador começa quando tive que fazer o Magistério, pois, no meu município, não tinha o colegial. Essa opção foi para preencher o tempo e não ficar à toa. Quando iniciei os estudos, não levava muito a sério. Comecei a gostar dessa área quando a professora de Didática começou a me incentivar, e também comecei a fazer o estágio. O Magistério abriu um novo campo de trabalho na minha vida, tanto pessoal como profissional. Sempre tive dificuldade em falar e ler em público. Com a ajuda da educadora que ministrava as aulas de Didática, pude superar um pouco esse medo e colocar os meus conhecimentos em prática. Comecei lecionando na zona rural; trabalhei em uma escola rural durante 8 anos. Depois que a escola fechou, tive que lecionar na cidade. Tenho vários cursos, Normal Superior e duas pós-graduações (de Educação Inclusiva e Gestão Educacional). No momento, estou lecionando com uma turma do 3º ano (2ª série), na parte da tarde. Esse ano, estou fazendo o curso Ler e Escrever e também estou me capacitando para trabalhar com o AEE, no ano que vem.
Além disso, faço um trabalho voluntário na escola onde leciono. Na parte da manhã, fico na biblioteca como auxiliar, das 8h00 às 10h00 e, no horário das 11h30 às 12h50, atendo alunos com dificuldades de aprendizagem e também alunos com necessidades especiais. Esses alunos atendidos por mim são da minha turma que leciono. Para ser um bom educador, é preciso, antes de mais nada, gostar do que faz. Ver o educando como um ser humano, amá-lo, acreditar nas suas potencialidades e aprender com as suas dificuldades.
Marco Aurélio Ferreira Eliziário, professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental "Capitão Leovigildo Silvério Gomes dos Reis", de São José do Barreiro (SP).

Paixão e propósito
Agradeço a Deus pela oportunidade de ser professor voluntário de Informática e Recursos Humanos. Fazer bem ao próximo é muito gratificante. Venci a barreira da má dicção por ser portador da síndrome de Wilson, com exercícios de natação e fonoaudilogia. Aprendi que a fala não depende só da respiração, mas da harmonia de todo o corpo. Posto isto, encarei esse obstáculo. No início foi difícil, mas venci sempre com um sorriso. Numa competição de natação, 10 nadadores. O prêmio é só para os três primeiros, mas os perdedores sabem que o importante é completar a prova. “Quando você estiver lutando por algo, vá até o fim.” Sofri muita rejeição e preconceito, mas isso me levou à busca do aprimoramento nos estudos para ser alguém na sociedade. Atualmente, trabalho no STJ (concursado), sou pós-graduado, pratico natação e ainda sou professor voluntario, dentre outros. Com a leitura frequente da revista Profissão Mestre, aprimoro meu conhecimento, pois temos que desempenhar uma tarefa que valorize o professor e o aluno. Destarte, é um desafio para ampliar e desenvolver habilidades. Porém, de nada adianta ler e não possuir comprometimento e paixão pelo que se faz. É preciso ter propósito. 
Renato Falcão Martins Pimentel, professor voluntário de Informática e Recursos Humanos, de Brasília (DF).

Sonho de menina
Olá, sou Sonia Regina, professora, e trabalho com ensino médio e fundamental. Já nasci professora e realizei este meu sonho aos 36 anos de idade, quando entrei para uma faculdade. Desde o colegial, eu ficava distraída na sala de aula, observando minhas professoras e me imaginando no lugar delas. Era no tempo da reguada, do castigo na sala escura e da cara virada para parede. Mesmo assim, eu amava minhas professoras, amava ir para a escola e amava estudar. Aos 18 anos, tentei a faculdade de Letras e, como eu havia descoberto que estava grávida, nem fui ver o resultado. Minha vida tomou outro rumo, mas o sonho de ser professora não foi deletado, apenas adiado. Aos 35 anos, depois de uma longa e dolorosa jornada de vida, resolvi tomar posse do meu sonho e ingressei na faculdade. Fiz licenciatura e, dois anos depois, fui para a minha primeira experiência em sala de aula. Foi o dia mais importante de minha vida. Quando me chamavam: professoraaaaa, eu ficava olhando em volta até me dar conta de que estavam falando comigo mesma. Quanta satisfação, foi o primeiro dia de minha vida em que me senti realmente realizada. Até me dar conta que eu consegui ser "professora", foi uma longa caminhada. Daí em diante, comecei a estudar e fazer cursos de Didática de Ensino e Práticas Pedagógicas, a fim de me tornar a melhor possível em sala de aula. Minha maior preocupação era ser entendida e entender meus alunos. Passei a me preocupar em conhecer cada um deles para analisar onde estavam suas dificuldades e como eu poderia ajudá-los. Hoje, a escola é minha vida, meus alunos são como se fossem membros de minha família. Considero-me uma professora de talento.
Sonia Regina Peixoto, professora de Juventude, Educação e Trabalho (JET) e de Geografia, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Major Alfredo Pedro Rabaioli, de Vitória (ES).


Vencendo as dificuldades
Nasci de uma família muito simples. Fui criada muito isolada e tímida; morria de vergonha de me expor e sofria muitos preconceitos por ser pobre. Mas, desde pequena, tinha na alma a vontade de ser professora. Para meus pais, era um sonho impossível, pois morávamos em um sítio distante de cidade. Sofri preconceitos e discriminações, mas lutei contra tudo e contra todos. Consegui me formar em 1993 e, em 1994, já estava na sala de aula. Vivo cada dia como único, buscando contribuir na formação dos meus alunos. Jamais desisti do meu sonho e, hoje, o realizo como um troféu, enfrentando cada obstáculo como um grande crescimento a minha vida profissional. 
Solidéia Falquete Mendes, professora.

Inspiração em forma de poema
Já a educadora Janette Kuczkowski Safanelli, professora do 4º ano do ensino fundamental I, da Escola Básica Municipal Ministro Pedro Aleixo, de Massaranduba (SC), expressou seu sentimento sobre ser educadora em forma de poema. Confira: 

Alma de educador 

Com um ano de vida,
Engatinhando
Ao meu redor
Estavam muitos objetos,
Eu não sabia qual pegar.
Uma brincadeira ou superstição,
O objeto que eu pegaria
Faria a revelação
Da minha futura profissão.
A caneta por mim foi escolhida,
Disseram que professora eu iria ser.
O tempo correu a passar...
Para o futuro poder dizer.
Na escola gostava de ir
Porque amava os meus mestres
Estimava os coleguinhas,
Ficava preocupada
Com aqueles que não aprendiam.
Cresci e decidi
Professora queria ser!
Foi dentro da escola
Que o desejo nasceu e amadureceu.
O silêncio
A sensibilidade
Calaram-me sempre.
Mas fizeram-me refletir
Que escola queria para mim,
Que escola queria para as crianças,
E descobri
Que é preciso observar, sentir e agir.
O mundo só se transforma
Quando as pessoas são felizes.
Para isso é preciso de amor
Aplicado nas matrizes.
Amor na família,
Amor na escola,
Amor na sociedade
Transformarão o mundo
Através dos pequeninos
Que assim tratados
Torná-lo-ão melhor:
Mais justo,
Mais cooperativo,
Solidário e cheio de paz.
Hoje não preciso só de caneta,
Minha jornada não tem ponto final.
Depois de ter engatinhado,
Caminho
Para fazer diferença
Na minha vida,
Na escola que trabalho,
Na minha sala de aula,
Com comprometimento e dedicação.
Piso no terreno da educação
Com vontade!
Não há espaço para amador.
É bom demais agarrar essa causa
Com coração e alma de Educador!


Editora-chefe das revistas Profissão Mestre e Gestão Educacional

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