domingo, 8 de setembro de 2019

A organização do Tempo e o Espaço na Educação Infantil
Pensar a organização do espaço e do tempo na educação infantil não é tarefa simples. Representa pensar em detalhes que irão refletir o projeto pedagógico da instituição.
Cores da parede, altura dos murais, tamanho dos móveis e a disposição são apenas alguns dos aspectos fundamentais que envolvem tal tarefa. Com relação a esse assunto BAROSA E HORN (2001) afirmam:
Organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequencia básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que o educador observe que as crianças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-tempo tenha significado. P. 67.
É importante ressaltar que o cotidiano de uma escola de educação infantil não deve parecer monótono e desinteressante para as crianças. Na verdade esse cotidiano deve se transformar em uma aspecto necessário para elas. As crianças devem sentir falta de estar na escola e se sentirem dispostas a criar e inventar participando das atividades propostas durante o dia.
Um ponto importante é que certamente as atividades oferecidas para as crianças menores não serão as mesmas oferecidas as maiores. Os desafios se modificam e exigem novos elementos. Inclusive a organização das salas não podem ser as mesmas.
Existem alguns pontos importantes que merecem destaque a respeito desse assunto:
a sala deve ser uma ambiente especialmente criado para proporcionar experiências variadas;
o mobiliário deve ser adequado as necessidades das crianças criando possibilidades de independência e autonomia, responsabilidade e uso do bem comum;
fatores como: número de crianças, faixa-etária e características do grupo são pontos fundamentais de atenção na organização do espaço;
os ambientes infantis devem promover: identidade pessoal, desenvolvimento de competência, oportunidade para movimentos corporais, estimulação dos sentidos, sensação de segurança, confiança, oportunidade para contato social e privacidade;
valorizar o uso do espaço interno e externo das creches e dos centros de educação infantil;
a importância de estabelecer normas que regem a estrutura e funcionamento das creches e centro de educação infantil para garantir a rotina e a organização;
a importância de oferecer um planejamento com os horário de todas as atividades, inclusive entrada e saída das crianças;
a importância de organizar uma rotina que garanta estabilidade e segurança para as crianças, a equipe e seus familiares;
a valorização de oferecer durante o dia atividades mais agitadas e mais calmas, sempre com flexibilidade para dar a criança o direito de escolha;
a garantia de um planejamento com atividades livres e dirigidas.
É importante que também exista um espaço comum para as crianças maiores e menores interagirem, trocando informações. Segundo Vygotsky, a experiência do mais experiente irá interferir nos processos que que não estão consolidados nos menos experientes.
Com relação ao planejamento da sala BARBOSA e HORN (2001) destacam alguns cantos alternativos que podem existir nas salas:
Canto da música com instrumentos musicais comprados ou confeccionados, rádio, toca-fitas.
Canto do supermercado com embalagens vazias de diferentes produtos, sacos para empacotar, caixa registradora, dinheiro de papel e moedas, cartazes com nomes de produtos, prateleiras.
Canto do cabeleireiro com espelho, maquiagens, rolos, escovas, grampos, secador de cabelos, bancada, cadeira, bacia para lavar cabeça, embalagem de xampu, cremes.
Canto do museu com objetos colecionados pelas crianças em passeios, viagens.
Canto da luz e da sombra com projetor de slides, lanternas, retro-projetor, filmes feitos pelas crianças, lençóis.
Fortunati (2009) destaca que pensar o espaço também como gerador da experiência representa o sinal de uma atenção de escuta das necessidades das crianças que antecipa \u2013 e, no entanto, apoia \u2013 o cuidado da relação e da interação do adulto com as crianças dentro do contexto educacional. O autor afirma que:
Pensar como o espaço da experiência das crianças ajuda o adulto a amadurecer as expectativas de protagonismo nas ações que as crianças expressam em seu interior, utilizando as oportunidades presentes, e também pode ajudar o adulto a suavizar a intromissão sobre a criança por parte das instancias educacionais quando a necessidade dos resultados prevalece sobre a sensibilidade da escuta. P.
É importante destacar que o planejamento, o desenho do espaço e posteriormente a intervenção que o educador e toda a equipe farão sobre o ambiente devem responder a critérios que estão na base dos objetivos do projeto politico pedagógico da instituição.
A instituição ao construir esse documento deve considerar que as crianças precisam de auxílio para compreender o mundo que as cerca; é importante definir bem os espaços. A organização externa irá contribuir na organização interna das crianças.
Algo fundamental é o planejamento dos horários e atividades que garantam o cuidar e o educar, lembrando que o lúdico deve sempre estar presente. Sem aprisionar as pessoas em horários rígidos e atividades repetitivas.
Com relação ao tempo será importante garantir que a rotina não vire uma repetição monótona que crie desmotivação e desinteresse nas crianças.
Nesse ponto será importante evitar que o dia dia se torne uma corrida contra o tempo em prol de deixar as crianças limpas, arrumadas e alimentadas.
Para evitar que esse fato ocorra o planejamento é essencial: organizar os espaços definindo como e quando será utilizado pelos diferentes grupos de pessoas, ajuda as crianças a se orientarem.
JAUME (2004) destaca algumas necessidades significativas em relação ao planejamento e a organização do espaço em geral, pensando em todos os envolvidos na construção de um trabalho de educação infantil de qualidade:
Necessidade Afetiva
Necessidade de autonomia
Necessidade de movimentos
Necessidade de socialização
Necessidades fisiológicas
Necessidade de descoberta, exploração e conhecimento
Necessidade dos adultos
Na criação do ambiente é importante buscar espaços que estimulem o movimento e as destrezas motoras, lugares livres e amplos para correr e deslocar-se livremente, assim como, garantir espaço mais calmos para atividades de leitura ou que possibilitem assistir um filme.
Outro aspecto importante é promover a comunicação entre todos os membros que envolvem a instituição: crianças, equipe e familiares. As trocas devem ser ricas e diversificadas.
Um ambiente alegre e democrático irá facilitar esse processo de integração. Um bom exemplo é o uso do mural. Podem existir murais que exponham o trabalho das crianças, mas também murais de avisos e notícias interessantes em que qualquer pessoa da comunidade escolar pode participar.
Algo importante a destacar é que na educação infantil, todos os aspectos estão intimamente relacionados e devem apontar para uma mesma direção, um projeto político pedagógico de qualidade.
A organização dos espaços refletirá a maneira como a escola percebe a criança e como ela acredita que deve ser educação infantil. Ideologias, valores e cultura estarão expressos no ambiente.
A criação de espaços harmônicos, que expressem sensibilidade e busca pelo belo favorecerão o bem estar de todos. Favorecendo laços de amizades e trocas afetivas.
Além desses aspectos, é importante lembrar ao planejar a organização do tempo, que a rotina deve ser garantida para ajudar a criança a apresentar uma estabilidade comportamental, pois como destaca JAUME (2004):
Rotinas conferem à criança um ponto de referência indispensável para seu desenvolvimento. Essa maneira
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Tendências pedagógicas: o que são e para que servem


Roberto Ferreira dos Santos

Só serás bom se souberes ver as coisas boas e as virtudes dos outros. Por isso, quando tiveres de corrigir, fá-lo com caridade, no momento oportuno, sem humilhar... E com intenção de aprender e de melhorar tu próprio, naquilo que corriges.
Jose María Escrivá
Este trabalho é parte das atividades do 7º Seminário de Práticas Educativas: componente curricular do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Alguns dos principais expoentes da história educacional nacional e internacional debruçaram-se sobre a questão das tendências pedagógicas. Autores como Paulo Freire, Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros não menos importantes, dedicaram grande parte de suas vidas a estudos que pudessem contribuir para o avanço da Educação, desenvolvendo teorias para nortear as práticas pedagógicas, objetivando melhorar a qualidade do ensino que é aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências pedagógicas no universo educacional. O que se pretende neste trabalho é justamente trazer à tona essa questão, erguendo a bandeira das tendências pedagógicas contemporâneas, buscando, assim, contribuir para uma melhor assimilação delas por parte de alguns professores de escolas públicas.

A relação entre as tendências pedagógicas e a prática docente

As tendências pedagógicas são de extrema relevância para a Educação, principalmente as mais recentes, pois contribuem para a condução de um trabalho docente mais consciente, baseado nas demandas atuais da clientela em questão. O conhecimento dessas tendências e perspectivas de ensino por parte dos professores é fundamental para a realização de uma prática docente realmente significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o a responder a questões sobre as quais deve se estruturar todo o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para quê? Por quê?
E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus objetivos, o professor deve ter as respostas para essas questões, pois, como defende Luckesi (1994), “a Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na escola sem que se tenha alguma clareza do seu significado. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema, foram concebidas com base nas visões desses pensadores em relação ao contexto histórico das sociedades em que estavam inseridos, além de suas concepções de homem e de mundo, tendo como principal objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a partir das necessidades de ensino observadas no âmbito social em que viviam.
Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas por parte dos professores, principalmente as mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que possibilitam ao educador um aprofundamento maior sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensino-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilidades de direcionamento do seu trabalho a partir de suas convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo para a produção de uma prática docente estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmente, interessante para os educandos.
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar motivos para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se for aceito como fatalidade, ele torna a escola um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a revista Nova Escola, edição de novembro/2000).
Desse modo, creio que seja essencial que todos os professores tenham um conhecimento mais aprofundado das tendências pedagógicas, pois elas foram concebidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador deve conhecê-las, principalmente as mais recentes, ainda que seja para negá-las, mas de forma crítica e consciente, ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos observados em cada uma delas para construir uma base pedagógica própria, mas com coerência e propriedade.
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pensar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha fazer a síntese do tradicional e do moderno: síntese e não confusão”. O importante é que se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o alunado e assim poder dar um sentido político e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está em consonância com o que diz Saviani (1991):
a Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, consequentemente, como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenredar a educação das visões ambíguas para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão educacional (p. 103).
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da Educação, o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre educação e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências filosóficas responsáveis por interpretar a função da educação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação Transformadora da sociedade. A primeira é otimista, acredita que a educação pode exercer domínio sobre a sociedade (pedagogias liberais). A segunda é pessimista, percebe a educação como sendo apenas reprodutora de um modelo social vigente, enquanto a terceira tendência assume uma postura crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobilizador” (pedagogias Progressivistas).
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma abordagem das tendências pedagógicas, organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. O quadro a seguir apresenta de forma muito simplificada as principais características de cada tendência pedagógica, seus conteúdos, métodos e pressupostos de ensino-aprendizagem, assim como seus principais expoentes e os papéis da escola, do professor e do aluno comuns a cada uma delas.
QUADRO SÍNTESE DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Nome da tendência pedagógicaPapel da escolaConteúdosMétodosProfessor x AlunoAprendizagemManifestações
Tendência Liberal TradicionalPreparação intelectual e moral dos alunos para assumir seu papel na sociedade.São conhecimentos e valores sociais acumulados através dos tempos e repassados aos alunos como verdades absolutas.Exposição e demonstração verbal da matéria e /ou por meio de modelos.Autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno.A aprendizagem é receptiva e mecânica, sem se considerar as características próprias de cada idade.Nas escolas que adotam filosofias humanistas clássicas ou científicas.
Tendência Liberal Renovada ProgressivistaA escola deve adequar as necessidades individuais ao meio social.Os conteúdos são estabelecidos a partir das experiências vividas pelos alunos frente às situações problema.Por meio de experiências, pesquisas e método de solução de problemas.O professor é auxiliador no desenvolvimento livre da criança.É baseada na motivação e na estimulação de problemas. O aluno aprende fazendo.Montessori, Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet, Lauro de Oliveira Lima.
Tendência Liberal Renovada Não Diretiva (Escola Nova)Formação de atitudes.Baseia-se na busca dos conhecimentos pelos próprios alunos.Método baseado na facilitação da aprendizagem.Educação centralizada no aluno; o professor deve garantir um clima de relacionamento pessoal e autêntico, baseado no respeito.Aprender é modificar as percepções da realidade.Carl Rogers, "Sumerhill", escola de A. Neill.
Tendência Liberal TecnicistaÉ modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas.São informações ordenadas numa sequência lógica e psicológica.Procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações.Relação objetiva em que o professor transmite informações e o aluno deve fixá-las.Aprendizagem baseada no desempenho.Skinner, Gagné, Bloon, Mager. Leis 5.540/68 e 5.692/71.
Tendência Progressivista LibertadoraNão atua em escolas, porém visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social.Temas geradores retirados da problematização do cotidiano dos educandos.Grupos de discussão.A relação é de igual para igual, horizontalmente.Valorização da experiência vivida como base da relação educativa. Codificação-decodificação. Resolução da situação problema.Paulo Freire.
Tendência Progressivista LibertáriaTransformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário.As matérias são colocadas, mas não exigidas.Vivência grupal na forma de autogestão.É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres.Também prima pela valorização da vivência cotidiana. Aprendizagem informal via grupo.Lobrot, C. Freinet, Miguel Gonzales, Vasquez, Oury, Maurício Tragtenberg, Ferrer y Guardia.
Tendência Progressivista "Crítico-social dos conteúdos ou histórico-crítica"Difusão dos conteúdos.Conteúdos culturais universais que são incorporados pela humanidade frente à realidade social.O método parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado.Papel do aluno como participador e do professor como mediador entre o saber e o aluno.Baseadas nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos.Makarenko, B. Charlot, Suchodolski, Manacorda, G. Snyders Demerval Saviani.

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