quarta-feira, 18 de abril de 2018

Alpha: uma nova geração que chega nas escolas


por: Ana Flávia Hantt
Data: 11/08/2017 | 10:00



Ao ser perguntada sobre seus passatempos preferidos, Gabriela de Matos, 7 anos, fala sobre as brincadeiras de boneca, e também sobre os passeios que faz na companhia da família. Ela explica ainda, que utiliza o celular de seu pai para jogar seus jogos favoritos, mesmo que muitas vezes, precise escolher apenas um dos aplicativos para brincar. 'Eu gostava muito de um joguinho do Discovery Kids, mas tive que tirar ele para colocar um da Peppa Pig', conta.
A naturalidade com que Gabriela fala sobre o processo de instalar e excluir jogos do celular, representa um dos principais aspectos que definem o que pesquisadores têm chamado de Geração Alpha. Nascidas a partir de 2010, essas crianças que estão chegando agora nas escolas, apresentam como principal característica a naturalidade com que interagem e compreendem a tecnologia. Especialistas acreditam, inclusive, que a facilidade de escolher vídeos no smartphone ou jogar no tablet, mais do que habilidades de uma geração, podem representar, sim, uma evolução da espécie, com seres humanos mais inteligentes.
Professora de Gabriela e de seus colegas no 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Cônego Albino Juchem, Thaís da Silva possui 18 anos de experiência em sala de aula, e reconhece que hoje, os estudantes têm chegado à fase de alfabetização com conhecimentos diferentes. 'Quando eu apresento uma letra, eles já conhecem palavras que iniciam com ela, porque já viram nos jogos que utilizam no celular', conta.
>> Assista o vídeo 'Alpha: A Nova Geração - O Filme' aqui.



O conhecimento prévio e a interatividade com a qual as crianças estão acostumadas, também tem modificado a forma como a professora Thaís desenvolve seu trabalho. Embora dispositivos tecnológicos não estejam à disposição dos estudantes, a docente procura desafiá-los com jogos e com atividades estimulantes, que exijam uma capacidade maior de concentração. 'Hoje eu preciso estar muito mais preparada para dar aulas', salienta.
O desafio, contudo, não é apenas tecnológico. Com relações mais horizontais dentro das famílias, e com mais tempo dedicado aos jogos online, os estudantes que hoje chegam nas escolas apresentam maiores dificuldades de relacionamento e socialização. Por terem muitas facilidades no seu dia a dia, eles também precisam aprender a lidar com suas 'vontades', entendendo os limites necessários em cada situação. 'Hoje, os alunos são mais questionadores, e constantemente, preciso explicar e justificar minhas decisões para eles', destaca Thaís.
***


PESQUISA

'A tecnologias faz com que as crianças percebam as coisas de forma mais fácil"

Em conversas, era comum que a mestre em Ensino de Ciências Exatas e doutora em Informática na Educação, Patrícia Silva, ouvisse que 'hoje em dia, as crianças já nascem muito mais espertas, pois sabem utilizar a tecnologia desde pequenas'. Diante dessa fala, e motivada por observações e notícias, decidiu direcionar sua pesquisa para as formas como os nativos digitais tem percebido a tecnologia.
Ao fim do trabalho, a pesquisadora constatou que, para determinadas crianças, utilizar a tecnologia faz com que percebam as coisas de forma mais fácil, pois oportuniza a elas que experimentem, joguem e reiniciem quantas vezes quiserem. 'Além disso, faz com que as crianças tenham mais interesse em explorar determinadas atividades do que quando oferecidas em material concreto, pois o recurso digital é lúdico, colorido e apresenta inúmeras facilidades', pontua.
Outra constatação da pesquisa, é que ao usar a tecnologia, a criança recebe feedbacks, mesmo que em sentido figurativo, mostrando todas as formas de ver a imagem ou animação, oportunizando que ela possa aprender a partir das suas ações.

Patrícia Silva, que é pós-doutoranda em Informática na Educação, diz que atualmente, em sua pesquisa, verifica como os alunos aprendem melhor: quando em contato com 'o real' ou com o 'virtual'.

Folha do Mate - Você acredita que as novas gerações assimilam o conhecimento de uma forma diferente do que ocorria em gerações anteriores?
Patrícia Silva - Conforme o embasamento teórico utilizado para minha pesquisa, com base na Epistemologia Genética (Piaget), o processo de assimilação que ocorre para a construção do conhecimento ainda é o mesmo. O que se diferencia de uma geração para outra, é o meio e as interações que acontecem nele. Por exemplo, em gerações passadas, não tínhamos acesso às tecnologias, às diferentes metodologias e recursos que temos acesso hoje, mas crianças aprendiam, eram alfabetizadas e interagiam com os objetos presentes em seu meio. 
Atualmente, as crianças têm ao seu dispor uma infinidade de aplicativos, recursos e brinquedos que, quando utilizados como objetivos bem definidos e não simplesmente por usar, podem contribuir para a construção de conhecimento e fazer com que ele aconteça de forma mais simples e instigante para ela.
Quais são as orientações para um professor que está hoje em sala de aula?
O professor precisa, em primeiro lugar, estar preparado para trabalhar em diferentes ambientes, não somente para a sala de aula. A construção de conhecimento acontece com auxílio do quadro, com atividades práticas, na interação entre professor e aluno, no pátio, com pesquisa, e também utilizando smartphones e a tecnologia mobile learning. Para tanto, o professor precisa estar atento, ser um mediador de conhecimento, sabendo propor situações que instiguem seus alunos, que desperte neles a curiosidade e o interesse em saber mais sobre determinados assuntos.
Acredito que uma boa estratégia que contemple todos estes quesitos é a metodologia de Projetos de Aprendizagem. Por meio dela, o aluno poderá trazer para sala de aula assuntos que ele gostaria de saber mais, e assim os conteúdos vão se delineando e sendo trabalhados pelo professor. Os Projetos de Aprendizagem fazem com que o professor saia da sua zona de conforto. Inicialmente é trabalhoso, mas ao mesmo tempo, motivam mais os alunos e os levam a buscar por soluções para os seus problemas. Além disso, os projetos podem ser trabalhados por meio de blogs, smartphones, computadores, aplicativos, pesquisas, mapas conceituais, histórias em quadrinhos, imagens, dentre outros recursos, todos estes que na maioria das vezes os alunos já estão familiarizados e que fazem parte do seu dia a dia.


>> Desafio é transformar e aplicar informações no mundo real

A popularização da internet gerou impacto em todas as áreas da atividade humana, inclusive, na educação. Na opinião do mestre em Letras e professor do curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Erion Lara, os últimos 15 anos foram de importantes descobertas sobre como criar e colaborar com a ajuda da internet, onde, em poucos cliques, tem-se acesso a uma quantidade de informação nunca antes visto. 'O grande desafio de agora em diante é fazer uso de todas essas informações, transformá-las em conhecimento e aplicá-las no mundo real', destaca.
Nesse contexto, é que o professor passa a desempenhar um papel diferente. Na opinião de Lara, mais do que repassar um conteúdo previsto para uma determinada disciplina, o docente da atualidade deve servir como uma espécie de curador de conteúdo, de informações que serão debatidas em sala de aula. 'O professor busca estabelecer um fluxo de conversação, procurando sempre unir teoria e prática', comenta.
Logo, o papel do estudante também não é mais o mesmo: de sujeito passivo, que esperava a informação chegar até ele, para um sujeito mais ativo, contestador, e que busca informação. 'Ele é protagonista nesse processo de aprendizagem'.
Na opinião de Lara, uma maneira de promover a aplicação do conhecimento são os ambientes colaborativos, nos quais o processo de aprendizagem possa estar ligado a busca de soluções para problemas reais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu aguardo as sementes que você possa vir a lançar. Depois selecioná-las e plantar.

Novo Piso Salarial 2024

  A luta está em torná-lo  real no holerite dos profissionais