quarta-feira, 18 de abril de 2018

Impor limites é essencial para a criança ser segura e feliz


Impor limites é essencial para a criança ser segura e feliz

Estabelecer regras e definir limites é uma das grandes dificuldades para os pais de hoje, mas é também uma das atitudes mais importantes para criar uma criança segura e feliz

“Limite é necessário em todas as fases. Está presente no desenvolvimento de questões morais e de aprender o certo e o errado”, diz a terapeuta ocupacional, especializada em desenvolvimento da criança, Teresa Ruas, de São Paulo.
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Desde cedo

Segundo ela, a infância é o primeiro contato da criança com as noções de que nem tudo é permitido a ela. A partir desta noção, ela aprende que deve respeitar esses limites da mesma maneira como deve ser respeitada também.
Para Teresa, quando os pais lidam com o limite com tranquilidade e segurança, constroem para seus filhos um ambiente funcional e que permite a eles entender que há coisas que não poderão fazer.
“Até os 3 anos, a criança tem uma estrutura emocional egocêntrica. Ela, literalmente, não entende o outro. Age de acordo com as sensações dela. Por isso, precisa ser ensinada, treinada mesmo a entender.”

Limite é para…

Psicóloga clínica do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, Ana Lucia Gomes diz que, antes de estabelecer limites, os pais devem entendê-los também. As funções dos limites são:
1. Ensinar a criança a lidar com a frustração. É na infância que esse treino deve ser feito, para evitar que esse processo se torne doloroso na adolescência e na vida adulta”, afirma.
2. Ajudar os pais a entenderem e agirem de maneira eficiente em ataques de birra. Ao estabelecer limites, não cedem às crises de birra da criança e não reforçam esse comportamento como sendo eficiente.
3. Estimular a independência no desenvolvimento da criança. “Uma criança que tem noção de que não pode tudo vai, com certeza, crescer mais independente e emocionalmente mais madura. Em compensação, atitudes de superproteção são desaconselháveis, porque não ajudam a criança a ultrapassar a frustração”, alerta Ana Lucia.

A importância

O limite não é, necessariamente, uma restrição, explica Teresa, mas estabelece regras e uma rotina, que vão ajudar a criança a navegar pelo mundo com mais segurança. “É muito importante ela conhecer a rotina do dia, saber o que vai acontecer: que será alimentada, que vai ter a hora do banho e que vai chegar o momento da sonequinha. Isso a ajuda a desenvolver os conceitos de começo, meio e fim”, diz Teresa.
Para a psicóloga Rosely Sayão, ensinar limites é ensinar a viver. Apenas os pais precisam fazer isso com bom senso, pois a criança adquire segurança correndo riscos. “Claro, ninguém vai permitir que corra riscos desnecessários. Mas é na ação, no experimentar, que ela aprende. Não adianta falar, a criança não entende, não consegue se controlar. É muito mais eficiente ensinar limites na prática”, avisa Rosely.
Teresa reforça essa tese ao usar como exemplo a fase em que a criança começa a andar. “Eles se sentem tão donos do mundo quando conquistam essa etapa! E ela só pode acontecer com o treino de limites. Os pais não podem, realmente, ensinar o filho a andar. Esse é um treino da criança. Ela deve aprender sozinha a controlar o corpo. O papel dos pais é incentivar e ajudar, oferecer um apoio, por exemplo. Mas a criança vai cair. Ela precisa cair para testar suas habilidades e aprimorá-las. Precisa cair para entender seus limites, para passar por cima da frustração inicial e conseguir, finalmente, caminhar sozinha.”

Cuidado com o “não”

Entender a importância do limite ajuda a criar maneiras mais eficientes de ensiná-los. Muitas vezes, uma afirmação é mais eficiente do que o bom e velho “não”. “A criança até entende que ‘não’ é ‘não’, mas não vai desistir por isso. Ela não consegue. O ideal é ensinar no ato, com assertivas”, diz Rosely.
Para a neurolinguística, o ‘não’ cria uma imagem mental na cabeça da criança que a estimula a fazer exatamente o que se pede para que ela não faça. “Um exemplo bem prático é o clássico dedinho na tomada. Na hora em que o pai diz ‘não ponha o dedo na tomada’, o que fica na cabecinha da criança é ‘tomada’. E ela vai insistir. O ideal é desviar o foco da tomada, oferecendo uma alternativa – por exemplo, ‘venha para perto da mamãe’ ou qualquer outra sugestão de atividade que mude o foco da criança”, diz Alexandre Bortoletto, psicólogo e instrutor da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística.
Segundo ele, a assertiva é sempre melhor do que a negativa. O especialista explica que uma negativa, em vez de educar, pode acabar incentivando a criança a ir em frente no comportamento inadequado. Dizer o que quer que a criança faça, de forma clara e sempre oferecendo opções, é um bom caminho para ajudá-la a entender que ela tem uma gama de ações em que pode agir.

Em “casos de emergência”

“Eu sou pai de uma criança de 3 anos e vivencio essa questão do limite diariamente. Vamos acabar escorregando uma vez ou outra no ‘não'”, conta Alexandre. “Mas é normal, fomos criados assim, com este condicionamento. Eu mesmo me pego falando ‘não’! O importante é acrescentar um ‘sim’ imediatamente. No caso da tomada, claro que nenhum pai vai deixar o filho levar um choque! Se ele disse o `não¿, deve acrescentar uma escolha. Por exemplo: ‘Não! Não ponha o dedo na tomada! Olha que bonito este livro que o papai pegou para você. Vamos ler esta história juntos’? ou qualquer outra proposta, um jogo, um brinquedo. É importante sempre oferecer escolhas.”

Limite do bem

Para Teresa, os pais andam com medo e com culpa de estabelecer limites e isso é prejudicial para todos os envolvidos, em especial para a criança. “A mãe fica o dia inteiro fora, trabalhando; quando chega em casa e tem alguns momentos com as crianças, não quer ser a chata que diz ‘não’. Mas ela não está sendo chata, e a criança não vai deixar de gostar da mãe por isso. Ao contrário, vai encontrar nesse limite o suporte que precisa para se sentir amada.”
Para Ana Lúcia, a experiência em clínica mostra que pais que cresceram sem muitos limites têm mais dificuldades em estabelecê-los com o próprio filho. Já os que foram educados com regras mais claras podem ser um pouco mais rígidos. “Aí é que está a beleza de se criar uma criança: no equilíbrio. O excesso de limite é tão ruim quanto sua ausência. Pais superprotetores criam crianças mais imaturas e menos preparadas para encarar a vida de maneira segura.”
Alexandre oferece uma dica para ajudar pais a ensinarem limites, sem usar o “não” e reforçando o sentido de independência e responsabilidade da criança: “O `ou¿ é uma falsa escolha e um artifício excelente para ser usado pelos pais. Você pode perguntar a seu filho se ele prefere tomar banho antes do almoço OU na hora de dormir. O banho, seu objetivo, está garantido, mas você evita que a criança reaja mal à ideia. A única coisa é que você tem de manter o combinado. Isso é importante, para ele entender que optou e deve cumprir. Essa falsa escolha pode ser aplicada em diversas situações e costuma funcionar bem.”
Para Teresa, o mais importante é que os pais entendam e aceitem a tarefa de ensinar limites a seus filhos como um privilégio e um ato de amor. “Não é fácil, eu sei. Especialmente porque o mundo, as pessoas, os adultos andam muito sem limites. Mas essa é só mais uma razão para criarmos uma geração que lide melhor com as frustrações. Minha orientação é para que os pais nunca se sintam mal por ajudar seus filhos a crescerem como adultos saudáveis, felizes e seguros. Não há maior prova de amor do que essa.”

E a birra?

Para os especialistas, um dos pontos mais importantes é a birra. “Ela é o recurso máximo da criança. Os pais não devem ceder a ela de maneira nenhuma. Seu filho está testando limites. Se ultrapassá-los, vai se tornar um adolescente imaturo e malcriado”, diz Teresa.
Para Ana Lucia, um pai que, diante de uma birra pública, por nervosismo ou vergonha, atende aos desejos da criança, vai reforçar nela a ideia de que sempre conseguirá o que quiser se começar a chorar e espernear. “Meu conselho é simples: se você estiver em casa, simplesmente deixe-a chorar. Ela vai parar. Claro, isso pode ser desgastante, mas ela vai parar e, rapidamente, deixará de lado esse artifício.”
Alexandre recomenda duas saídas para os ataques em locais públicos. “Ou você, fisicamente, retira a criança do local, pega seu filho no colo e encerra o passeio ou consegue resolver a crise sem ceder. Uma ideia é oferecer escolhas. O importante é não estimular esse comportamento.”

GERAÇÃO ALPHA


 Entrevista cedida pela psicologa Vanessa Vieira Beraldo CRP 06/101577 para Revista Tutores

GERAÇÃO ALPHA

QUEM SÃO E O QUE PENSAM AS CRIANÇAS DA GERAÇÃO ALPHA, NASCIDAS DEPOIS DE 2010?

A geração Alpha é composta por crianças que desde muito pequenas, estão inseridas em um cotidiano rodeado pela tecnologia. Em pleno desenvolvimento, é precoce afirmar o que pensam, mas a tendência indica que sejam muito mais independentes que suas antecessoras, e com habilidade de adaptação a novas tecnologias.
Psicologo para geração alpha

QUAIS AS PRINCIPAIS CARATERÍSTICAS DAS CRIANÇAS NASCIDAS DEPOIS DE 2010, A CHAMADA GERAÇÃO ALPHA?

São crianças muito mais atentas e observadoras. Aparentam ser mais inteligentes, mas esta percepção se deve por estarem inseridas em um ambiente com muito mais estímulos sensoriais, com brinquedos criados cuidadosamente para desenvolver sua audição, tato e visão.
A mobilidade da tecnologia atual também auxilia bombardearmos esta geração com cores e formas de educação em todos os lugares e momentos, gerando uma aceleração ainda maior no processo de desenvolvimento.

COMO AS ESCOLAS E OS PAIS ESTÃO SE ADAPTANDO PARA LIDAR COM ESSE GRUPO CONSIDERADO MAIS EVOLUÍDO?

É um grupo extremamente novo e em pleno desenvolvimento, não tendo ainda modelos de educação bem definidos ou pré-estabelecidos. O que se sabe é que seguimos cada vez mais para uma forma de ensino mais voltada para as necessidades e interesses dos alunos, e menos para o padrão sistematizado e hierárquico de outrora.
Piaget mencionou que “cabe ao professor acreditar na potencialidade de seus alunos, e organizar experiências que lhes possibilitem interagir com os saberes formalizados”.
Desta forma, pais e professores deixam de ser educadores e passam a ser mentores, com foco maior na orientação de uma geração que possui acesso as informações na palma da mão.

COMO ESTÃO HOJE AS GERAÇÕES X, Y E Z? ELAS ESTÃO CORRESPONDENDO ÀS EXPECTATIVAS CRIADAS EM RELAÇÃO A ELAS DESDE O SEU SURGIMENTO? OU MUDARAM COMPLETAMENTE DE RUMO, CONTRARIANDO AS EXPECTATIVAS?

As gerações se mesclam em algum momento, temos a X de 1960 – 1980, Y de 1980 – 2000, e Z de 1990 – 2010. As gerações se comportam hoje ainda com traços característicos de sua época, porém como temos uma globalização as diferenças vão diminuindo e as pessoas se adaptando umas as outras. As expectativas criadas e os tabus colocados foram muito fortes. A geração X foi criada para ter um futuro mais próspero que seus pais tiveram, pois os mesmos vieram de uma era de recessão. Construir carreiras firmes e estáveis, e conseguir ascensão após anos de trabalho árduo. Com a economia mundial entrando numa era de prosperidade, a chave do sucesso foi possível, trazendo um otimismo em relação ao futuro.
Este otimismo e prosperidade fez com que a geração Y fosse criada de forma branda, acreditando mais ainda no seu potencial e necessitando de uma resposta imediatista.
Com a geração Y almejando carreiras brilhantes e posições de destaque em curto espaço de tempo, houve uma frustração coletiva, já que não é possível que uma geração inteira se destaque.
A extrema ambição, fruto da ilusão de quem essa geração realmente é, faz com que as expectativas sejam extremamente altas, desde o início da carreira e como a realidade não condiz com as expectativas o resultado é a frustração e infelicidade.
Podemos colocar que a geração Z é a extensão da Y, porém sem o grau de expectativa da geração anterior. É um público que acompanha a evolução tecnológica das empresas, focando muito para a área de jogos e mobilidade, despertando assim o espírito de competitividade e colaboração. O acesso às informações é bem mais rápido, fazendo com que despendam muito de seu tempo em seus celulares, tablets e smartphones. Isso gera um distanciamento nos relacionamentos interpessoais, abrindo ainda mais espaço para a imersão da tecnologia e o mundo virtual. São pessoas com certas características de impaciência e distração, procuram fazer somente o que gostam e com algum tipo de recompensa, é a geração que se preocupa com a sustentabilidade do planeta.
Hoje as gerações ainda se adaptam, não podemos afirmar que elas são engessadas por serem de outra época. O ser humano está sempre em pleno desenvolvimento, e a diversidade das gerações é enorme. O rumo das expectativas tomou percursos diferentes do planejado, que foram necessários para a adaptação de cada um.
DE QUE MANEIRA O COMPORTAMENTO DESSAS GERAÇÕES REFLETEM NO MERCADO DE TRABALHO, NA OFERTA E PROCURA POR CURSOS?
No mercado de trabalho a mescla é grande, por vezes gerações competem por um espaço, mesmo a X procurando por estabilidade e a Y por desafios.
Como cada geração possui suas características e inúmeras diferenças entre si, as empresas foram se adequando em valores e missões. Contratam gerações para compor o seu quadro e cabe ao profissional de pessoas, saber atuar, manejar e explorar a habilidade que cada um tem de melhor a oferecer. Y e Z, são gerações com flexibilidade e habilidade para o trabalho, interessadas em projetos e ascensão rápida, não pensam em construir uma carreira sólida como a geração X, por isso apresentam mais rotatividade nos seus currículos. Possuem menos foco, uma rotina atarefada e pouco tempo livre. Como são a geração dos anos 90, despertaram um pensamento sistêmico e global que para as empresas é muito importante e aproveitável.
A geração X demonstra competência e valorização no seu crescimento, pensando em uma estabilidade profissional e começam a ser mais flexíveis no mundo corporativo, conseguindo se manter com suas qualidades.
Por isso que hoje as empresas não pensam somente em resultados, mas também em pessoas. Esse movimento que há das gerações impulsiona o mercado de trabalho.
Todos saem ganhando! Os profissionais de cada geração que vão aprendendo uns com os outros e as empresas que podem aproveitar e usufruir de todas essas qualidades.
Da mesma forma os cursos vão se ajustando para atender essa demanda e dar conta dessa diversidade.
Marisa de Abreu Alves
Psicóloga 
CRP 06/29493

Geração Alpha e o futuro da Educação


Escolas e pais têm um novo desafio: se preparar para educar a geração Alpha, nascida depois de 2010, em um contexto global totalmente diferente, com tecnologias avançadas e muito mais informação
A chamada geração Alpha são as crianças que nasceram depois do ano 2010 – a mais nova geração deste século 21. O termo foi usado pela primeira vez pelo sociólogo australiano Mark McCrindle, em março de 2010, e seu nome tem origem na primeira letra do alfabeto grego, “a”.
A geração Alpha nasceu em um contexto global no qual as novas tecnologias estão bem mais desenvolvidas do que há dez anos. O uso dessas ferramentas tecnológicas, hoje, é diferente, os desafios ambientais são mais preocupantes e a quantidade de informações com as quais lidamos no dia a dia nunca foi tão grande.
Acredito que o importante ao se falar da geração Alpha é iluminar a primeira infância, que é a fase mais importante da vida. Investir na primeira infância previne problemas em todas as esferas de uma sociedade”, diz Fernanda Furia, mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London, de Londres, e fundadora do Playground da Inovação, consultoria de psicologia e educação.
As crianças da geração Alpha são muito curiosas, espertas e ligadas em tudo à sua volta; terão, provavelmente, o maior nível educacional de todas as gerações; começarão a estudar mais cedo; serão as primeiras a experimentar um novo sistema escolar, mais personalizado e híbrido (on-line e off-line), com foco na autonomia do aluno e no aprendizado, baseado em projetos para aprender por meio de situações do cotidiano; e vão deter o maior conhecimento tecnológico da história.
Em pleno desenvolvimento, é precoce afirmar o que pensam, mas a tendência indica que sejam muito mais independentes que suas antecessoras e com habilidade de adaptação a novas tecnologias”, afirma a psicóloga Vanessa Vieira Beraldo. A mobilidade da tecnologia atual também auxilia bombardearmos esta geração com cores e formas de educação em todos os lugares e momentos, gerando uma aceleração ainda maior no processo de desenvolvimento”, complementa.
A geração Alpha é um grupo extremamente novo e em pleno desenvolvimento, não havendo ainda modelos de educação bem definidos ou preestabelecidos”
Além disso, elas se relacionarão de forma menos hierárquica, serão desde cedo criadoras de conteúdo, de produtos e serviços, viverão em um mundo mais interconectado com a “internet das coisas” (próximo estágio da evolução digital, onde objetos do cotidiano estarão interconectados), realidade aumentada, tecnologia no corpo, impressora 3D/4D e terão produtos e serviços personalizados e sob medida.
Tudo isso vai impactar a maneira de a geração Alpha consumir serviços, produtos e informação. Além de se refletir na forma como as pessoas se relacionarão entre elas e com as coisas”, avalia Fernanda Furia.
Para o neuropsiquiatra e psicoterapeuta Tabajara Dias de Andrade, diretor do Centro Latino-Americano de Desenvolvimento, de Campinas, o futuro dessas crianças também resultará em um novo mundo. “Em qualquer fase da nossa vida, somos o resultado de múltiplos fatores que nos determinam: carga genética, ambiente, estímulos e experiências, associados a algo fantástico e indescritível que é a nossa soberania e livre arbítrio, que fazem de cada pessoa um ser único”, afirma.
Essas crianças nasceram em um mundo totalmente novo para elas – porque estão explorando tudo pela primeira vez – e também para nós – pois vivemos novidades e desestruturações surpreendentes. Muito inteligentes, elas operam equipamentos eletrônicos com uma facilidade incrível. O pensamento, moldado e estimulado por esta nova realidade, certamente trilhará caminhos diferentes dos vividos pelas gerações anteriores”, diz.
PAIS E PROFESSORES
A geração Alpha é um grupo extremamente novo e em pleno desenvolvimento, não havendo ainda modelos de educação bem definidos ou preestabelecidos. A percepção é de que se caminha, cada vez mais, para uma forma de ensino voltada para as necessidades e interesses dos alunos, e menos para o padrão sistematizado e hierárquico de tempos atrás.
Desta forma, pais e professores deixam de ser educadores e passam a ser mentores, com foco maior na orientação de uma geração que tem acesso às informações na palma da mão. Segundo Jean Piaget (1896-1980), cabe ao professor acreditar na potencialidade de seus alunos e organizar experiências que lhes possibilitem interagir com os saberes
formalizados”, analisa a psicóloga Vanessa Vieira Beraldo.
Os desafios para os pais e escolas ao lidar com as crianças dessa geração, portanto, estão mudando. De um lado, os pais estão sobrecarregados em razão de um contexto de vida muito corrido e com pouco espaço para reflexão, principalmente nas grandes cidades. As escolas estão sem saber como engajar as novas gerações, porque os alunos não se interessam mais pela forma de ensinar que ainda predomina.
Hoje, mais do que nunca, é preciso ajudar as crianças a desenvolver habilidades que servirão de alicerce para enfrentar os desafios do cotidiano. As chamadas competências socioemocionais têm sido cada vez mais valorizadas pelos educadores e empregadores em vários países”, lembra Fernanda Furia.
Programas específicos para o ensino dessas competências nas escolas têm sido bastante discutidos e implementados, por exemplo, na Finlândia, Estados Unidos, Austrália e Canadá.
A habilidade para lidar com as emoções e para se comunicar, criatividade, responsabilidade, determinação, empatia, capacidade para tomar decisões e para resolver problemas são exemplos do que a vida exige das pessoas. “Ajudar as novas gerações a desenvolvê-las é responsabilidade dos pais, da escola e de toda a sociedade”, diz Fernanda Furia.
Com tudo isso, surge um novo papel para o professor: o de mentor e orientador dos alunos. A função principal não é mais de transmitir informação, porque as novas tecnologias podem fazer isso de forma eficiente também. O professor, agora, será cada vez mais importante como referência de inspiração e de valores, para guiar o aluno
em seu aprendizado e ajudá-lo a conhecer os seus talentos, limitações e aspirações.
Outro ponto fundamental é o de educar para uma cidadania digital. Isto significa ensinar as crianças a usar a internet e as novas tecnologias de forma responsável, ética e apropriada. Desta forma, será possível prevenir muitos casos de bullying, de exposição excessiva, de crimes cibernéticos etc.
Algumas escolas no Brasil já buscam sintonia com as tendências em educação no resto do mundo, para oferecer um ensino mais alinhado às necessidades do século 21. No entanto, a maioria delas, tanto públicas quanto privadas, ainda têm um caminho longo pela frente.
A grande quantidade de estímulos que estas crianças recebem fora da escola faz com que demandem por processos pedagógicos mais adequados, modernos e dinâmicos. Modernizar uma escola não significa equipá-la com máquinas modernas a serviço de uma pedagogia obsoleta. Quanto aos pais, creio que se beneficiariam muito em estar mais próximos de seus filhos e aprender com eles. Mais frequentemente falamos sobre a falta que os pais fazem na vida dos filhos, mas nos esquecemos dos imensos benefícios que os adultos têm no convívio com a gerações mais novas”, analisa Tabajara Dias de Andrade, neuropsiquiatria e psicoterapeuta.
Muitas das crianças pequenas de hoje apresentam marcos do desenvolvimento mais precoces do que as gerações anteriores. Por exemplo, a famosa fase dos “porquês”, quando a criança pergunta sobre todas as coisas, já começa a ser notada por volta dos dois anos e meio de idade ou três, quando costumava surgir aos cinco.
É difícil generalizar sobre o que as crianças pequenas pensam e são atualmente. O contexto em que vivem influencia a maneira de agirem e pensarem. Mas, uma coisa é universal e não mudou: a criança pequena é extremamente criativa, curiosa e sedenta por muito contato afetivo e social”, explica Fernanda Furia.
Portanto, as crianças pequenas precisam mais do que nunca de adultos com capacidade de se interessar por elas e de refletir sobre o que elas necessitam; com ética, para ensinar valores importantes e, acima de tudo, capazes de amar e dar carinho em um mundo nunca antes tão complexo.
Antes da geração Alpha, muito se discutiu as gerações X, Y e Z. A primeira (X) foi formada pelas pessoas nascidas entre 1960 e 1980. A Y, entre 1980 e 2000. E a Z, entre 2000 e 2010. Cada geração apresenta características próprias e inúmeras diferenças entre si.
A geração X demonstra competência e valorização do seu crescimento, pensando em uma estabilidade profissional. Hoje, começam a ser mais flexíveis no mundo corporativo, conseguindo manter-se com suas qualidades.
A geração Y era definida como os jovens que valorizam o prazer na vida e no trabalho, e que procuram uma qualidade de vida e um propósito profissional.
A geração Z são os adolescentes e jovens profissionais que nasceram em um contexto mais globalizado, no qual usufruem da tecnologia desde pequenos. São chamados “nativos digitais” e só entendem a vida com a internet e com as diferentes tecnologias. Por isso, a geração Z sente-se muito à vontade para se relacionar por meio das redes sociais e, na maioria das vezes, prefere este meio de comunicação. Inovação e velocidade são parte da vida deles.
As características e necessidades dessas gerações estão promovendo uma transformação nas estruturas das escolas, das empresas e do formato de trabalho.
Menos hierarquia, ambientes profissionais mais lúdicos, horários mais flexíveis e trabalhos mais colaborativos e remotos são algumas mudanças impostas pelas novas gerações. “Os cursos têm se tornado mais curtos, práticos e focados no mercado de trabalho e na criação de novos serviços que atendam as reais demandas das pessoas. A forma de comunicação também tem se transformado. Hoje, a linguagem mais visual e direta predomina”, explica a psicóloga Fernanda Furia.
Fonte: www.revistatutores.com.br

Alpha: uma nova geração que chega nas escolas


por: Ana Flávia Hantt
Data: 11/08/2017 | 10:00



Ao ser perguntada sobre seus passatempos preferidos, Gabriela de Matos, 7 anos, fala sobre as brincadeiras de boneca, e também sobre os passeios que faz na companhia da família. Ela explica ainda, que utiliza o celular de seu pai para jogar seus jogos favoritos, mesmo que muitas vezes, precise escolher apenas um dos aplicativos para brincar. 'Eu gostava muito de um joguinho do Discovery Kids, mas tive que tirar ele para colocar um da Peppa Pig', conta.
A naturalidade com que Gabriela fala sobre o processo de instalar e excluir jogos do celular, representa um dos principais aspectos que definem o que pesquisadores têm chamado de Geração Alpha. Nascidas a partir de 2010, essas crianças que estão chegando agora nas escolas, apresentam como principal característica a naturalidade com que interagem e compreendem a tecnologia. Especialistas acreditam, inclusive, que a facilidade de escolher vídeos no smartphone ou jogar no tablet, mais do que habilidades de uma geração, podem representar, sim, uma evolução da espécie, com seres humanos mais inteligentes.
Professora de Gabriela e de seus colegas no 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Cônego Albino Juchem, Thaís da Silva possui 18 anos de experiência em sala de aula, e reconhece que hoje, os estudantes têm chegado à fase de alfabetização com conhecimentos diferentes. 'Quando eu apresento uma letra, eles já conhecem palavras que iniciam com ela, porque já viram nos jogos que utilizam no celular', conta.
>> Assista o vídeo 'Alpha: A Nova Geração - O Filme' aqui.



O conhecimento prévio e a interatividade com a qual as crianças estão acostumadas, também tem modificado a forma como a professora Thaís desenvolve seu trabalho. Embora dispositivos tecnológicos não estejam à disposição dos estudantes, a docente procura desafiá-los com jogos e com atividades estimulantes, que exijam uma capacidade maior de concentração. 'Hoje eu preciso estar muito mais preparada para dar aulas', salienta.
O desafio, contudo, não é apenas tecnológico. Com relações mais horizontais dentro das famílias, e com mais tempo dedicado aos jogos online, os estudantes que hoje chegam nas escolas apresentam maiores dificuldades de relacionamento e socialização. Por terem muitas facilidades no seu dia a dia, eles também precisam aprender a lidar com suas 'vontades', entendendo os limites necessários em cada situação. 'Hoje, os alunos são mais questionadores, e constantemente, preciso explicar e justificar minhas decisões para eles', destaca Thaís.
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PESQUISA

'A tecnologias faz com que as crianças percebam as coisas de forma mais fácil"

Em conversas, era comum que a mestre em Ensino de Ciências Exatas e doutora em Informática na Educação, Patrícia Silva, ouvisse que 'hoje em dia, as crianças já nascem muito mais espertas, pois sabem utilizar a tecnologia desde pequenas'. Diante dessa fala, e motivada por observações e notícias, decidiu direcionar sua pesquisa para as formas como os nativos digitais tem percebido a tecnologia.
Ao fim do trabalho, a pesquisadora constatou que, para determinadas crianças, utilizar a tecnologia faz com que percebam as coisas de forma mais fácil, pois oportuniza a elas que experimentem, joguem e reiniciem quantas vezes quiserem. 'Além disso, faz com que as crianças tenham mais interesse em explorar determinadas atividades do que quando oferecidas em material concreto, pois o recurso digital é lúdico, colorido e apresenta inúmeras facilidades', pontua.
Outra constatação da pesquisa, é que ao usar a tecnologia, a criança recebe feedbacks, mesmo que em sentido figurativo, mostrando todas as formas de ver a imagem ou animação, oportunizando que ela possa aprender a partir das suas ações.

Patrícia Silva, que é pós-doutoranda em Informática na Educação, diz que atualmente, em sua pesquisa, verifica como os alunos aprendem melhor: quando em contato com 'o real' ou com o 'virtual'.

Folha do Mate - Você acredita que as novas gerações assimilam o conhecimento de uma forma diferente do que ocorria em gerações anteriores?
Patrícia Silva - Conforme o embasamento teórico utilizado para minha pesquisa, com base na Epistemologia Genética (Piaget), o processo de assimilação que ocorre para a construção do conhecimento ainda é o mesmo. O que se diferencia de uma geração para outra, é o meio e as interações que acontecem nele. Por exemplo, em gerações passadas, não tínhamos acesso às tecnologias, às diferentes metodologias e recursos que temos acesso hoje, mas crianças aprendiam, eram alfabetizadas e interagiam com os objetos presentes em seu meio. 
Atualmente, as crianças têm ao seu dispor uma infinidade de aplicativos, recursos e brinquedos que, quando utilizados como objetivos bem definidos e não simplesmente por usar, podem contribuir para a construção de conhecimento e fazer com que ele aconteça de forma mais simples e instigante para ela.
Quais são as orientações para um professor que está hoje em sala de aula?
O professor precisa, em primeiro lugar, estar preparado para trabalhar em diferentes ambientes, não somente para a sala de aula. A construção de conhecimento acontece com auxílio do quadro, com atividades práticas, na interação entre professor e aluno, no pátio, com pesquisa, e também utilizando smartphones e a tecnologia mobile learning. Para tanto, o professor precisa estar atento, ser um mediador de conhecimento, sabendo propor situações que instiguem seus alunos, que desperte neles a curiosidade e o interesse em saber mais sobre determinados assuntos.
Acredito que uma boa estratégia que contemple todos estes quesitos é a metodologia de Projetos de Aprendizagem. Por meio dela, o aluno poderá trazer para sala de aula assuntos que ele gostaria de saber mais, e assim os conteúdos vão se delineando e sendo trabalhados pelo professor. Os Projetos de Aprendizagem fazem com que o professor saia da sua zona de conforto. Inicialmente é trabalhoso, mas ao mesmo tempo, motivam mais os alunos e os levam a buscar por soluções para os seus problemas. Além disso, os projetos podem ser trabalhados por meio de blogs, smartphones, computadores, aplicativos, pesquisas, mapas conceituais, histórias em quadrinhos, imagens, dentre outros recursos, todos estes que na maioria das vezes os alunos já estão familiarizados e que fazem parte do seu dia a dia.


>> Desafio é transformar e aplicar informações no mundo real

A popularização da internet gerou impacto em todas as áreas da atividade humana, inclusive, na educação. Na opinião do mestre em Letras e professor do curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Erion Lara, os últimos 15 anos foram de importantes descobertas sobre como criar e colaborar com a ajuda da internet, onde, em poucos cliques, tem-se acesso a uma quantidade de informação nunca antes visto. 'O grande desafio de agora em diante é fazer uso de todas essas informações, transformá-las em conhecimento e aplicá-las no mundo real', destaca.
Nesse contexto, é que o professor passa a desempenhar um papel diferente. Na opinião de Lara, mais do que repassar um conteúdo previsto para uma determinada disciplina, o docente da atualidade deve servir como uma espécie de curador de conteúdo, de informações que serão debatidas em sala de aula. 'O professor busca estabelecer um fluxo de conversação, procurando sempre unir teoria e prática', comenta.
Logo, o papel do estudante também não é mais o mesmo: de sujeito passivo, que esperava a informação chegar até ele, para um sujeito mais ativo, contestador, e que busca informação. 'Ele é protagonista nesse processo de aprendizagem'.
Na opinião de Lara, uma maneira de promover a aplicação do conhecimento são os ambientes colaborativos, nos quais o processo de aprendizagem possa estar ligado a busca de soluções para problemas reais.

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