sábado, 31 de outubro de 2015

Uma perspectiva de gestão da educação em nossos dias.














      O exercício de fazer gestão na esfera municipal tem se transformado na tarefa mais desafiadora da minha existência. 
São onze anos dos vinte e seis que tenho de profissão em que me dedico incansavelmente à missão de aprender e gestionar pessoas, programas, direitos e deveres. Eu já aprendi muito, é fato, mas ainda sinto que é pouquíssimo diante dos desafios que o dia a dia educacional nos impõe.
            É necessário travar os mais variados tipos de lutas para permanecer íntegro e com sanidade nestes tempos em que estamos vivendo.
Um avanço que tenho percebido consiste nas equipes que integram o Ministério da Educação, os conselhos instituídos, pessoas que demonstram ter preparo e entendimento no sentido de normatizar e estabelecer diretrizes a serem cumpridas para que  o campo  educacional possa desempenhar bem todos os programas que lhe são confiados.  Somos um país que tem uma brilhante legislação, normativas, resoluções, tudo de excelente qualidade... O desafio é transpor tudo isso para a vida real.
A grande luta é que os recursos que recebemos para executar a legislação vigente é infinitamente menor que as demandas que temos para dar conta. Eu bem sei e todos sabem do quanto o piso nacional poderia ser de valor mais expressivo para grande parte dos professores e principalmente a condição de garantir o que é de direito. Infelizmente, neste ano, aqui ainda estamos aguardando  a diferença de 5%, não há de onde tirar sem alterar percentuais de folha de pagamento por conta de uma receita municipal que só faz diminuir e uma inflação que só faz aumentar. Ainda existe a “lenda” da possibilidade de receber complementação da União para garantir o piso, mas infelizmente a grande maioria dos nossos municípios não se enquadra nas exigências e não recebe complementação alguma da União, ainda que solicitem.
Uma das frente de luta está na dificuldade de oferecer as vagas em creches, onde nunca terminam as filas de espera, e exigem da gente as medidas mais agressivas para dar conta de um direito que é do cidadão brasileiro.
Os programas de transporte escolar, em que é vergonhoso informar o valor pago por aluno... Há dois meses que o Estado de Santa Catarina também não conseguiu cumprir com o compromisso de nos pagar o valor de convênio. ( até a data de 29/10) Os alunos continuam tendo aulas, todos os dias  eles esperam o transporte e ele precisa passar, de preferência sem nenhum atraso, com motoristas que fizeram cursos para tal e  com veículos vistoriados a cada seis meses.  Os recursos federais chegaram e foram fiscalizados pela Corregedoria Geral da União. Com base nos exames realizados, concluiu-se que a aplicação dos recursos federais recebidos está devidamente adequada à totalidade dos normativos referentes ao objeto fiscalizado (está no relatório). Esta informação a mídia tendenciosa não gosta de divulgar, mas é importante que se saiba.
       E o Programa Nacional de Alimentação Escolar, brilhante programa suplementar, em algumas regiões do país realmente deve ser determinante na vida dos estudantes. Não que aqui no “sul maravilha” também não tenhamos crianças que chegam na escola sem ter tomado café da manhã ou almoçado decentemente... Mas, pelos mais variados motivos. Cabe saber se as pessoas sabem o valor que recebemos em cada uma das modalidades, para dar conta das refeições diárias:Creches: R$ 1,00 por dia letivo criança/creche e na Pré-escola: R$ 0,50, Ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos: R$ 0,30. Vocês bem sabem quantas refeições uma criança que fica o dia todo na creche faz...  Sim!  Este é o valor com o qual temos que oferecer um programa de alimentação saudável e com acompanhamento nutricional de “três” nutricionistas, segundo os relatórios que se apresentam. Evidente que seria excelente ter à disposição três nutricionistas, ainda que a nutricionista que atua na Prefeitura  de Trombudo Central faz  e muito bem o seu trabalho com a carga horária que tem. A pergunta consiste: com que dinheiro se paga este programa? Com recursos próprios? Da  forma  que viemos fazendo  e recebemos inclusive elogios da Corregedoria Geral da União? De onde podemos esperar? Gostaria que me apontassem, no Alto Vale do Itajaí, quantos municípios do porte de nossa cidade, que tem o nosso número de alunos, conseguem manter três nutricionistas com 30h semanais cada uma delas, como preconiza Resolução (aquela pensada por gente estudiosa) para garantir o programa de alimentação escolar e ainda suplementam em praticamente o dobro do valor recebido para oferecer alimentação de qualidade como oferecemos. Se existir algum, prometo me empenhar e entender como fazem esta mágica.
     Muitas “impropriedades” – e, por favor, reflitam sobre o significado deste termo – na execução dos recursos federais foi o que o Controladoria Geral da União encontrou em Trombudo Central. Algumas ações para adequar e realizar de forma mais eficiente, porém NENHUM dano ao erário público. Fico imaginando o que encontrariam se abrissem a “caixa-preta” deste país e nos demonstrassem em um relatório. O que fica difícil de explicar para as pessoas que não querem entender é que a falta de recursos, aqueles que não chegam, é um dos grandes motivos que nos impedem de dar conta de tudo que exigem e não oferecem aporte financeiro.
            E as obras públicas? As poucas “preciosas” que o sul tem condição de se enquadrar para receber por contas dos IDHs, elas demandam de muito trabalho, muita burocracia, muita boa vontade das empresas, muitos prazos, medições, condições climáticas, vistoria e elas SEMPRE dão muito afazeres, talvez poucas pessoas tenham dimensão de entendimento para compreender isso.
Enquanto isso, as estruturas das unidades que precisam de reparos ficam na espera, enquanto complementamos programas suplementares não conseguimos arrumar telhados e laboratórios de informática e demais...
        É uma crise financeira? Olha, dos tempos todos que faço gestão é a MAIOR que já se apresentou. É uma crise política? Eu nunca vi, NUNCA, nada do formato e proporção que tenho assistido em todas as emissoras, links, sites, jornais. Se tudo isso vai melhorar? Certamente que vai, não há bem que nunca se acabe e nem mal que nunca termine. A fórmula pra isso eu também não sei, mas um caminho simples e uma reforma na redistribuição dos recursos neste país. Um povo que paga os impostos que pagamos não tem a condição de ter saúde, educação e cultura com qualidade também porque de tudo que pagamos apenas 17% através do FPM volta para o município, onde todos precisam, clamam pelos direitos e batem à porta. Aos que querem ver e percebem que a situação  é nacional, quiçá mundial, fica mais fácil de argumentar, mas os que preferem enveredar pelos caminhos da política partidária, envergonhados por admitir que reelegeram o  governo, preferem dizer que a culpa é apenas do prefeito que foi reeleito. Também tem coragem, alguns, menos esclarecidos politicamente eu imagino, de dizer que os municípios estão no mesmo patamar de algumas pessoas do governo federal, simplesmente ignoro.  Com os míseros recursos voltando e não em quantidade justa e necessária, com os prefeitos tendo que implorar para receber um projeto ou outro, depois de muita burocracia, com o povo sendo massacrado com os preços da energia, do combustível e de todo o mais, com o comércio fechando, com as empresas mudando de local, eu lamento dizer que não vejo a luz que queria ver.
Além destas todas e de outras lutas, que não vou descrever agora para não ser prolixa demais, saliento que ainda não chegamos no grande desafio  que é de garantir o aprendizado de forma significativa para nossas crianças e adolescentes, este é o nosso verdadeiro papel. Infelizmente gastamos tanta energia boa com os programas  complementares  que tem  sobrado pouco tempo e disposição para fazer o pedagógico, que é,  e pra mim SEMPRE será, o mais importante no processo educativo.
Aqui a luta se apresenta em relação à formação continuada, avaliações bem reflexivas, envolvimento das famílias na educação de seus filhos, projetos de mediações de conflitos, a garantia da hora atividade, e a  mobilização  do grupo para valorizar o precioso tempo que tem para planejar, ler, refletir e adentrar as unidades educacionais preparados e com mediações que venham ao encontro dos alunos desta geração. Poderia citar muitas conquistas, muitos avanços, muita gente boa que trabalha e luta todo dia pra que o aprendizado aconteça. Verdadeiramente é o que me mantém lutando, eu acredito muito no trabalho que fazemos e acredito também que fazer gestão nestes tempos é missão pra gente de coragem, e isso eu tenho.
Continuarei na luta, buscando motivar a equipe para o que fazemos de melhor que é trabalhar todos os dias para que direitos e deveres sejam respeitados, para que alunos, professores e gestores aprendam, no final é só isso que fica. Eu seguirei democraticamente  sempre que possível, enfaticamente sempre que necessário.

Por DEUS eu ainda  acredito no poder transformador que só a educação tem, nada e nem ninguém ainda conseguiu abalar isto em mim.

P.s Eu falo das coisas que faço e vejo e exatamente de onde coloco o pé, o que não quer dizer que seja alienada e não perceba quantos exemplos clássicos  existem nestes país de má gestão pública.



Cátia Regina Marangoni Geremias
Professora e Gestora 

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  A luta está em torná-lo  real no holerite dos profissionais