quinta-feira, 10 de maio de 2012


Professor(a), sim, com muita honra

O presente de uma nação pode se medir pelo IDH ou PIB, mas o futuro se avalia pelo empenho das escolas e pela confiança dos professores

Luis Carlos de Menezes (novaescola@atleitor.com.br)
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Luis Carlos de Menezes. Foto: Marina Piedade
Luis Carlos de Menezes é físico e educador da Universidade de São Paulo (USP)

Ao fim de mais um ano, acompanho o balanço de realizações, dívidas e dúvidas nos conselhos de escola e de classe em que tenho o privilégio de ser recebido. Faço isso há anos e me chama a atenção, ultimamente, mais que novos resultados ou velhos problemas, um crescente sentido de responsabilidade coletiva. Preocupam-me as difíceis condições de trabalho, mas o sentimento que me domina é de orgulho, em ser parte de algo que é determinante para a construção de nosso país. Resolvi falar do que me anima, nesta edição, para fazer um lembrete: temos uma função social importante a desempenhar, tanto os experientes quanto os que estão começando na carreira - para esses, NOVA ESCOLA lançou o Guia do Professor Iniciante (nas bancas por 10,90 reais)

A despeito de tudo o que ainda falta alcançar, asseguro que estamos no rumo certo quando vejo estudantes tratados como gente, e não como números, e seus problemas de aprendizagem vistos como questões da escola, e não da sociedade ou da família. Posso testemunhar isso, por exemplo, em instituições com mais de mil alunos, em que a coordenadora pedagógica procura a razão de um rapaz antes assíduo e participativo passar a faltar ou para algumas garotas estarem tão mal em duas disciplinas se estão bem nas demais. E, quando observo um experiente professor de Matemática reservar parte das aulas para suprir defasagens de seus alunos ou uma jovem da área de humanas se dispor a um diálogo de aproximação com estudantes que parecem estar na escola a contragosto, percebo que são de fato educadores. Afinal, não repetem o julgamento de que "esses alunos não têm condição de estar aqui...". 

Este foi um ano difícil, com boas escolas sendo palco de tragédias. Mas elas não estão em guerra civil. São espaços de resistência e construção social. Ocorre que para elas confluem todas as questões de seu entorno social e, quando forem notícia policial, recusemos "soluções" como detectores de metais e câmeras por toda parte. Também, quando se discutem salário e condições de trabalho, não aceitemos insinuações que não se pode esperar nada de professores que atuam sob risco e ganham pouco. Meias verdades, tão convincentes quanto maléficas, que nos desmerecem. Más condições devem ser apontadas para serem superadas, e não para desvalorizar a carreira. 

Precisamos compreender a crise da Educação em função do seu crescimento, pois se, em poucas décadas trouxemos o povo brasileiro para dentro da escola, agora é preciso saber o que fazer com ele. É disso que resultam muitas questões por resolver. Por isso, novos recursos materiais serão insuficientes sem o envolvimento dos milhões de brasileiras e brasileiros que se dedicam ao Magistério. São eles que acolhem crianças e jovens de todo o país, em suas esperanças e em seus problemas, que, na realidade, são as esperanças e os problemas de toda a nação. Escola não é mera agência de promoção econômica, mas, quando se discute qualificação dos nossos trabalhadores para desenvolver a economia e superar o desemprego estrutural, é de Educação que se está falando. Da mesma forma, não é mera trincheira socioambiental. Quando se analisam questões dessa área, como a degradação urbana, também é de Educação que se está falando. 

Por isso tudo, nós somos fundamentais para que o Brasil tenha um futuro que valha a pena. Recebemos em nossas aulas todas as potencialidades e limitações de nossa sociedade e, precisamos admitir, elas demandam nossa potencialidade e igualmente revelam nossas limitações. Devemos pedir apoio e exigir condições para cumprir o que de nós se espera, mas não nos desculpemos pelo que somos e, se questionados, podemos dizer: sou professor(a), sim, com muita honra!

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