quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Falta de ética na educação

Estado de Minas, 25/01/2012 - Belo Horizonte MG 

É negativa a aliança entre o aluno que quer se formar logo e o docente despreparado 
Hildelano Delanusse Theodoro - Professor, sociólogo e coordenador do Núcleo de Inovação Santo Arnaldo da Faculdade Arnaldo
Apesar de ser muito discutida e pretensamente entendida, a palavra ética tem um contorno muito vinculado com a formação do caráter humano, principalmente quando considerada sob a ótica clássica de sua definição aristotélica. E mesmo com inúmeras outras possíveis definições, a aqui colocada serve como mote para uma discussão urgente dentro das instituições de ensino superior (IES): o aumento assustador da falta de ética profissional docente. O tema aqui se refere não somente ao baixo nível das discussões que ocorrem em salas de aula, com o favorecimento explícito ao aluno-cliente, frente ao posicionamento autônomo dos professores, como, principalmente, ao fato de que uma grande parte dos docentes, hoje em dia, sequer é formada nas áreas em que lecionam, ou terem qualquer tipo de experiência comprovada e qualificada para tanto. E se levarmos em conta as orientações contidas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), instituída por portaria ministerial em outubro de 2002, o tamanho da desfeita se torna ainda maior. Atualmente, o número de professores sem graduação/pós/experiência em determinadas áreas, principalmente de humanas, para lecionar disciplinas vinculadas à ética profissional ou movimentos sociais, por exemplo, é assustador e se torna cada vez mais comum dentro das IES. 

Afinal, a pergunta a fazer não deveria ser tanto o que é necessário para uma postura ética, e sim, quais as qualificações para o exercício de atividades de ensino superior vinculadas ao tema. De outra forma, continuaremos a produzir o que se vê diariamente nas salas de aulas: um conjunto de alianças entre o aluno que quer apenas se formar o quanto antes e de qualquer forma (mesmo que para tanto tenha de se utilizar de mecanismos escusos) e o pseudo-docente, que, mesmo sem ter a formação adequada, deseja mesmo é receber pela carga horária referida e, ao mesmo tempo, indevida (uma vez que poderia, teoricamente, aprender a repetir sobre os conceitos éticos em qualquer livro). Mas o verdadeiro problema, talvez, não se esconda simplesmente nessa relação utilitarista e distante da formação do caráter do princípio ético, tão necessário nesse país, que favorece o jogo das aparências sociais e onde os currículos muitas vezes não são comprovados nem demonstrados na prática cotidiana das instituições. 

O fato é, assim, como elas podem melhorar a si mesmas, a partir de um posicionamento mais claro e crítico de seus interesses e objetivos de atuação, dentro de um mercado educacional que se encontra em processo de crise: por um lado tem de buscar novos alunos, e por outro, deve tentar buscar excelência. O único porém que se pode identificar claramente é que ética, assim como a excelência, estão intrinsecamente vinculadas ao estado de ser bom e correto no mais alto nível, no ensinamento pelo exemplo. O que se percebe, ao mesmo tempo, é que isso talvez seja tudo o que nos falta, pois só pode nos ensinar sobre ética (assim como sobre qualquer disciplina) aquele que sobre tal pensou, estudou e agiu, sendo isso o reconhecimento do mérito. Normalizar sobre o desvio no ensino superior pode nos levar a caminhos ainda mais tortuosos e, possivelmente, sem volta.

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