segunda-feira, 30 de maio de 2011

Precisamos de pontes e não de muros

Gazeta do Povo, Vida e cidadania, Publicado em 22/05/2011 | Brisa Teixeira, especial para a Gazeta do Povo


Marcos Cordiolli, mestre em Educação.
Promover a interação entre pais, estudantes e professores é uma tarefa urgente, necessária e que pode ter a tecnologia – ainda vista como “bicho-papão” por muitos educadores – como aliada. A opinião é do professor Marcos Cordiolli, mestre em educação, que acaba de lançar o livro Currículo escolar: teorias e práticas (Editora Melo).
Segundo o educador, os estudantes de hoje são pessoas hiperconectadas. Essa característica, associada ao processo da convergência das mídias, dificulta a comunicação com os professores, que se sentem estrangeiros no mundo digital. Mas Cordiolli acredita que é possível construir uma ponte, onde hoje há essa barreira, a partir da incorporação de novos recursos pedagógicos.
Divulgação /  Entrevista
O professor abordou o assunto na 18.ª Educar/Educador (Feira e Congresso Internacional de Educação), encerrada neste sábado, em São Paulo, e falou também com a reportagem da Gazeta do Povo. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
Você defende que as novas tecnologias estão aproximando professores e famílias. Como esse processo está ocorrendo?
As tecnologias da informação e comunicação dispõem de ferramentas fundamentais que podem aproximar de forma inédita os professores e os pais. Considerando as condições da escola e dos professores, os pais podem acessar as informações básicas do desenvolvimento do processo pedagógico e pode-se até promover situações em que a família possa participar ativamente das ações educativas. E a escola pode dar um passo a mais, envolvendo os pais em atividades pedagógicas, contribuindo, inclusive, para reaproximar pais e filhos em famílias com pouca interação. Por outro lado, os pais podem conhecer mais de perto as atividades escolares de seus filhos e participar mais diretamente de suas vidas. Aproximar e promover a interação entre pais e professores é uma tarefa urgente e necessária.
Qual é a responsabilidade da família nessa interação da escola com a tecnologia?
São duas as situações: a de familiares que possuem qualificação para as vias digitais e aqueles que são excluídos ou rejeitam esta inclusão. Acho que em ambos os casos as escolas devem adotar posturas pedagógicas em relação aos familiares, orientado-os para ações de acompanhamento dos filhos e estimulando-os a leituras críticas e de segurança em relação aos conteúdos e as interações nas vias digitais da internet.
A responsabilidade é da escola ou da família em alertar sobre os perigos do mundo virtual?
A educação para o uso consciente da internet é um problema central de nosso tempo. Por um lado temos o problema de segurança em relação a crimes que têm como alvos crianças e adolescentes. Por outro, as próprias crianças e adolescentes podem promover ações danosas, das quais o cyberbulling é uma das manifestações. A escola precisa adotar ações para inibir isto e neste campo já são realizadas ações importantes e significativas. As famílias também já se preocupam muito com isso. É necessário, portanto, que escolas, ONGs e o governo desenvolvam programas para preparar os pais para esta tarefa. E, por último, a sociedade e governo também precisam adotar iniciativas para o uso consciente e seguro da internet.
Como os pais podem orientar os filhos?
Os pais que possuem canais de diálogo com os filhos estão em melhor condição de orientá-los nestes processos complexos e dinâmicos. Os familiares também precisam frequentar as mesmas vias digitais que as crianças e os jovens, ao menos para conhecê-las e obter capacidade de orientação e interação. É importante também agir com tolerância para compreender as diferentes fases de relacionamento que crianças e jovens estabelecem com as vias digitais, que são intensas, porém se modificam constantemente. A proibição ou a censura são os piores caminhos e devem ser descartados. É preciso construir pontes ao invés de muros.
Como deve ser a escola ideal para atender aos anseios das “crianças digitais”?
As pessoas hiperconectadas e a convergência das mídias são dois processos contemporâneos que impactam em grandes proporções a escola. Estes dois processos estabelecem uma barreira e uma ponte entre professores e estudantes. Os estudantes desenvolvem qualificações que nem todos os professores dominam, ao menos, nas mesmas proporções, acessando diversas vias de busca de informações e de círculos virtuais de discussões. Mas sobre esta barreira uma ponte pode ser lançada, pois novos recursos pedagógicos podem ser incorporados às ações educativas. Os professores e as escolas precisam incorporar os conteúdos da internet, as ferramentas digitais e as redes sociais às práticas cotidianas, dotando-os de sentido e objetivos pedagógicos.
Que recursos pedagógicos são esses?
As tecnologias da informação e da comunicação gradativamente estão integrando os processos pedagógicos e podem contribuir para a democratização da gestão e a promoção da interação entre a gestão, os professores e as famílias dos educandos. Em relação às práticas pedagógicas, a primeira tarefa importante é preparar os estudantes para navegar de forma seletiva entre os conteúdos disponíveis em grandes quantidades e com ampla diversidade, aprendendo a verificar os sites confiáveis, a origem das informações e a organizá-los para o seu próprio uso. Enquanto isso, as redes sociais podem se constituir em instrumentos pedagógicos para a motivação, mobilização e exercício crítico em atividades colaborativas de aprendizagem.
Há novas propostas curriculares surgindo?
Os limites disciplinares que adotamos nas escolas estão em crise, mas as escolas e os professores têm encontrado caminhos criativos e de sucesso. Novas propostas curriculares estão nascendo e novas formas de organização das práticas pedagógicas em sala de aula estão surgindo. A dinâmica das vias digitais da internet impõe questões e formas de aprendizagem distintas daquelas adotadas tradicionalmente em currículos escolares e nos planejamentos dos professores. As linguagens, principalmente das línguas nacional e das artes, requerem a introdução urgente da aprendizagem de outros gêneros utilizados intensamente na internet. É necessário também a imediata introdução da aprendizagem da linguagem audiovisual nas escolas. Por outro lado, os instrumentos digitais e as redes sociais permitem ampliar as condições de aprendizagem colaborativas, a organização de atividades integradas, as práticas de pesquisa e a socialização dos conhecimentos produzidos pelos estudantes.
Que soluções vêm sendo encontradas para diminuir a resistência dos professores às novas tecnologias?
Nós, os professores, somos como que estrangeiros no mundo digital de nossas crianças e jovens. Mas, mesmo como estrangeiros, podemos aprender e buscar a sua inclusão. Muitos professores e escolas têm conseguido conquistas constantes e importantes e os resultados são muito animadores. Por uma ou duas gerações vamos conviver com situações desproporcionais. Mas é importante respeitar os ritmos dos professores para não queimar etapas e nem atropelar processos.

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